Quando o assunto é moda masculina streetwear, várias marcas se destacam no mercado. Umas mais acessíveis; outras, bem caras. Porém, algumas marcas, mesmo com valores um pouco (ou bastante) acima da média, ainda se popularizam por causa dos produtos diferentões e, é claro, pela fama nas redes sociais.
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É o caso da BAPE, uma marca japonesa de streetwear que se tornou grande no Instagram e, consequentemente, atraiu a atenção de uma galera no mundo todo – o que é bem interessante, já que a marca não surgiu agora, ela existe desde 1993.
A Bathing Ape, também conhecida como BAPE, foi fundada pela NIGO e engloba roupas masculinas, femininas e infantis, assim como uma variedade de acessórios e itens de lifestyle. Em 2011, a I.T Group, de Hong Kong, comprou a marca e, em 2013, a NIGO deixou o cargo criativo da empresa.
É bem possível que essa transição tenha alavancado a marca nas redes sociais, e dado a ela a visibilidade de hoje.
A Moda Japonesa de Streetwear
Tóquio é referência quando o assunto é moda urbana. A cidade, extremamente movimentada e absurdamente populosa, respira urgência em cada esquina.
Como a tendência da moda streetwear é fundamentada no movimento e na utilidade das peças, poucos lugares do mundo representam tanto o estilo quanto a capital japonesa.
A BAPE entra nesse cenário e, aliás, o leva para fora do país, porque também tem lojas nos Estados Unidos, no Reino Unido, na França, em Hong Kong e em outros países da Ásia.
Parceria com artistas e colaboradores
A BAPE também é conhecida por fazer parceria com artistas e colaboradores. Em fevereiro deste ano, por exemplo, a Adidas anunciou um lançamento em parceria com a marca japonesa: o BAPE x adidas Dame 4.
Originalmente lançado em 2017 na colorway ‘Rip City’, o adidas Dame 4 é o quarto tênis da marca assinado pelo Damian Lillard.
Para celebrar o NBA All-Star Weekend de 2018, a BAPE se uniu com a adidas Originals para trazer ao modelo do jogador de basquete as assinaturas clássicas da marca japonesa – a camuflagem e os gráficos de tubarão.
A marca também veste algumas personalidades, como, por exemplo, o jogador Lukas Podolski, da seleção Alemã de futebol.
E é bem provável que seja esse o motivo da sua fama no Instagram: vestir uma galera famosa.
Streetwear e Athleisure
Além de ser uma marca na pegada streetwear, a BAPE também transpira a tendência Athleisure.
A moda esportiva casual, também conhecida como Athleisure, chegou com tudo nos últimos meses e,com inspirações dos anos 1990, a roupa esportiva masculina ganhou novas cores, tecidos e até mesmo cortes.
Esse estilo esportivo-urbano está presente em várias peças da BAPE, como nas jaquetas corta-vento, nas bermudas de moletom e em outros itens de estilo.
Quanto custa?
Tá, a conversa está muito bonita, mas e o preço? Quanto custa, em média, os produtos da BAPE?
Assim como outras marcas de streetwear de luxo, a BAPE não é barata. Na verdade, ela não é nada barata. Um boné, por exemplo, custa cerca de €77.72 o que, se convertermos, equivale a R$344. Uma camisa, mais ou menos no estilo acima, custa em torno de €202 (R$895).
Além das peças mais básicas, as jaquetas e casacos da nova coleção custam em torno de €474, o que equivale a R$2.100!
A moda como vitrine
Enfim, a verdade é a seguinte: numa época em que a música é virtualmente gratuita e tudo o mais fica a pouco mais de um clique na internet, os jovens voltaram suas atenções (e suas carteiras) na moda e em roupas como meio de se expressar.
É claro que os jovens já se expressam em suas roupas há anos, mas o mercado começou a entender isso e, por isso, começou a transformar em artigo de luxo um vestuário urbano que, originalmente, era utilizado simplesmente como forma de expressão, e não como um meio de ostentar.
Para entender essa mudança, vamos ir atrás da história da BAPE?
Depois de alguns anos trabalhando como editor e estilista na revista Popeye, Nigo abriu sua loja “Nowhere” com Jun Takahashi da Undercover, e logo depois trabalhou com o Sk8thing para lançar sua própria marca de roupas, A Bathing Ape – ou BAPE.
Nigo é um notório fã da cultura pop do século 20, e canalizou seu amor pelo filme Planeta dos Macacos, de 1968, no nome, além de se referir ao idioma japonês “Um macaco de banho em água morna”. A frase é usada para descrever alguém que exagera, alguém que “fica deitado na banheira até que a água não esteja mais quente”, assim como uma referência quase irônica ao mesmo jovem hiperconsumista que acabaria se tornando o público da marca.
Com sua mistura de moda urbana e esportiva, a marca rapidamente se tornou uma referência na florescente moda da cena Ura-Harajuku.
Juntamente com Neighborhood, Hysteric Glamour e outras marcas, A Bathing Ape e Nowhere ajudaram a definir o estilo “Urahara” dos anos 1990. Urahara vem do termo “ura-Harajuku”, que basicamente significa “underground Harajuku” – a cena underground que começou durante o início dos anos 1990 e que foi fortemente composta por uma mistura de várias roupas e estilos americanos.
Através de associações com a International Stüssy Tribe e James Lavelle dos registros da UNKLE & Mo’Wax, a BAPE foi rapidamente estabelecida como um tastemaker cultural em Tóquio, bem como um segredo mais bem guardado em círculos fechados no exterior – você só tinha uma peça da BAPE quando alguém ia para o Japão e trazia de volta algumas roupas e algumas revistas. Por isso, o hype se espalhava lentamente.
O poder da exclusividade
O motivo original para a escassez da BAPE era, sem dúvida, uma necessidade financeira – Nigo começou com um orçamento apertado e só tinha dinheiro para produzir cerca de 50 camisetas por semana – mas ele também não gostava da ideia de todos usarem a mesma coisa.
Em 1998, a marca era abastecida em cerca de 40 locais em todo o Japão, mas Nigo, em seguida, fez o movimento ousado de cancelar todas as operações de atacado, concentrando toda a sua energia em um único local emblemático em Tóquio. As vendas rapidamente ultrapassaram seus níveis anteriores e a fórmula fundamental do streetwear de hype, escassez e espetáculo nasceu – e, provavelmente, deu origem à cultura de luxo da streetwear que conhecemos hoje.
Desde a sua aquisição pela I.T, a BAPE estabeleceu-se como um dos principais nomes do streetwear contemporâneo; embora a marca esteja longe de ser tão escassa e imprevisível como costumava ser, seu legado como um dos ícones originais do streetwear, bem como suas conexões profundas no hip-hop e na cultura de rua, fez a marca continuar viva com um público muito mais amplo.
As raridades outrora cobiçadas, como os capuzes de tubarão BAPE e os casacos de neve isolados, tornaram-se peças essenciais a cada estação, e a icônica camuflagem da marca é agora uma das imagens mais prolíficas do estilo de rua contemporâneo. Para muitas das pessoas mais velhas na cena, a BAPE de hoje tem pouco em comum com suas raízes, mas se isso é bom ou ruim é, francamente, uma questão de perspectiva.
O fato é que a indústria da moda consegue transformar qualquer movimento genuinamente urbano em artigo de luxo e, conhecendo a história da empresa, fica fácil entender como eles conseguem vender peças simples, através do discurso de lifestyle, por valores exorbitantes.
Afinal, sempre vai ter alguém para comprar.
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