Quando o assunto é literatura de horror, ficção científica e fantasia, fica difícil competir com os livros de terror da DarkSide.
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A editora é um respiro dentro do ramo porque, enquanto o mercado impresso – infelizmente – parece respirar com dificuldades, as edições da DarkSide proporcionam um ar mágico e lúdico aos livros de terror, clássicos ou contemporâneos.
Além da editora lançar obras excelentes, ela garante uma qualidade indiscutível às edições publicadas sob o selo da caveirinha, o que dá força ao mercado impresso, afinal, são histórias incríveis contadas em edições lindas que, além de tornarem a experiência da leitura ainda mais agradável, também decoram a sua estante.
Eu já li praticamente todo o catálogo da editora e, para facilitar a sua vida na hora de escolher os melhores livros de terror da DarkSide, selecionei os meus favoritos que certamente valem não só a leitura, mas também um espaço na sua estante.
Hex – Thomas Olde Heuvelt (edição 2013)
Há controversas na hora de afirmar que este é o melhor livro de terror da atualidade. Porém, até agora, ele é o meu favorito.
A trama é quase folclórica, é um mito moderno com elementos clássicos da literatura holandesa que te prende do início ao fim e, assim como um bom clássico do terror, consegue te fazer perder o sono e ao mesmo tempo se emocionar.
Hex conta a história de uma família que vive em uma pequena cidade do estado de Nova York. A cidade é pacata e ironicamente tranquila, mesmo estando localizada perto de uma das maiores metrópoles do planeta.
Porém, apesar da aparência pacata, a cidade sofre uma maldição há séculos: uma bruxa, antes de ser morta por moradores da região, amaldiçoou todos aqueles que escolherem Black Spring como lar – mesmo que temporário.
Quem nasce em Black Spring não pode deixar Black Spring, e quem toma conhecimento da bruxa dentro das fronteiras da cidade também passa a ser amaldiçoado por ela.
O que acontece com quem deixa a cidade? Bem, Thomas Olde Heuvel deixa claro de uma maneira bem perturbadora os efeitos da maldição em quem se afasta de Black Spring.
O mais interessante no livro é como o autor consegue misturar elementos da tecnologia em uma clássica história de bruxa.
Hex, por exemplo, é uma plataforma criada para monitorar a localização da bruxa dentro da cidade – sim! Eu esqueci de comentar esse pequeno detalhe, mas a bruxa fica perambulando pela cidade o tempo inteiro. A plataforma funciona como um aplicativo interativo, e essa ideia consegue criar uma atmosfera ainda mais realista e envolvente.
Este é certamente um dos melhores livros de terror publicados pela DarkSide. A mitologia, os personagens, as soluções encontradas por eles e toda a falsa sensação de segurança proporcionada pelo globalismo e pela internet caí por terra ao longo das páginas de um jeito original e perturbador.
- Veja mais aqui: descubra o livro Hex
Ecos – Pam Muñoz Ryan (edição 2017)
Ecos faz parte da coleção DarkLove, cuja proposta é compartilhar histórias fantasiosas no melhor estilo dos contos de fadas mais clássicos que tanto amamos.
Este livro, entretanto, apesar de ter vários do nosso imaginário infantil, é diferente de tudo o que eu já li. Uma das obras mais doces – na verdade, mais agridoces – da DarkSide.
O livro carrega três histórias dentro de uma história maior. No início, somos apresentados para um conto de fadas de bruxas e feitiços bem clássico. Nesse conto, um garoto se perde na floresta e, entre as árvores, encontra três irmãs que contam sua história para ele.
As irmãs, prisioneiras de uma bruxa, o ajudam a voltar para a casa, e ele então recebe uma gaita mágica e um pedido: que ele as liberte através daquele instrumento.
Então, somos carregados para três histórias conectadas pelo mesmo instrumento: uma gaita. Cada história se passa em um lugar diferente do mundo, e cada uma dessas histórias conta com crianças como protagonistas.
O mais doce, e ao mesmo tempo triste – que proporciona aquela sensação agridoce -, é o fato de que cada uma das histórias se passa em um momento assustadoramente real da história do nosso mundo: o nazismo na Alemanha, as duas Guerras Mundiais e a Grande Depressão nos Estados Unidos.
Contos que são conectados pela música e crianças que se redescobrem como seres humanos dignos de respeito e de amor são apenas dois aspectos deste livro que certamente vai continuar dentro de mim por muito tempo.
- Conheça mais sobre o livro aqui: viaje pela música com Ecos
A Menina Submersa – Caitlin R. Kiernan (edição 2015)
Este livro foi uma das primeiras grande apostas da DarkSide fora das obras clássicas: e a editora acertou em cheio com A Menina Submersa, um dos livros mais empáticos e completamente fantasiosos que eu já li na minha vida.
A obra de Caitlín R. Kiernan é brilhante é vencedora do prêmio Bram Stoker, uma premiação concedida pela Horror Writers Association (HWA) por “realização superior” em terror.
Caitlín consegue fazer algo quase inédito na literatura de terror contemporânea: te colocar dentro da cabeça de uma pessoa esquizofrênica. A personagem principal navega pelas páginas deste livro que é seu diário e ao mesmo tempo uma história de amor.
Nós a acompanhamos pelos seus surtos, suas crises, suas visões, seus medos e seus anseios e, quando percebemos, estamos refém da personagem, completamente envolvidos em seu canto de sereia.
Uma grande obsessão da personagem é, inclusive, uma sereia – uma imagem de um quadro que ela viu quando nova e que nunca mais saiu de sua mente e nem de seus delírios. Ela se apaixona por aquela imagem e narra para a gente como é estar apaixonada por um fantasma.
Ao mesmo tempo assustador e apaixonante, A Menina Submersa é uma obra indispensável para fãs de livros de terror e para quem ama uma boa história.
- Descubra mais aqui: navegue pelo canto da seria de A Menina Submersa
Lady Killers – Tori Telfer (edição 2019)
Para curiosos que não cansam de estudar a mente de Serial Killers, Lady Killers é uma obra indispensável.
A coletânea das histórias (reais) mais assustadoras envolvendo Assassinas em Série ao longo da história não é só informativo, é também sociológico.
Tori Telfer consegue traçar não só o perfil das Assassinas em Série de uma maneira única, como também consegue narrar com clareza e eficácia o zeitgeist – ou o espírito da época –de cada caso, o que nos faz analisar e refletir sobre a sociedade, os costumes e inclusive sobre a forma que o mundo enxerga as Assassinas em Série. Ou melhor: a forma com a qual o mundo não as enxerga, afinal, nós raramente ouvimos falar delas.
Tori Telfer consegue mostrar com isso é problemático. Frequentemente, as mulheres psicopatas conseguem matar por mais tempo porque ninguém as leva a sério.
Seus crimes demoram para serem solucionados porque a sociedade demora a desconfiar da mulher e, inclusive quando as Assassinas em Série são pegas, a imagem de cada uma passa por um filtro muito perturbador: ou a Assassina em Série é vista de forma sexualizada, como o caso da Condessa Bathory – um sex symbol fetichizado em uma banheira de sangue – e outras assassinas dos anos 1940 em Chicago, ou a Assassina em Série é vista como uma louca ou uma bruxa.
De qualquer uma das formas, esses filtros impedem a aplicação da justiça da maneira correta. Em uma época onde a pena de morte na cadeira elétrica era comum, essa pena não era aplicada a uma mulher.
Quando várias pessoas morreram pelas mãos de uma mulher na Europa, a sociedade e a igreja enxergou essa mulher como uma bruxa e transformou suas ações em algo místico e fantasioso, adicionando elementos fantásticos e surreais que acabaram escondendo e não fazendo justiça às suas vítimas.
Lady Killers não é apenas uma coletânea de perfis de Assassinas em Série, é uma aula de história e sociologia.
- Veja mais aqui: conheça o mundo dos venenos das Lady Killers
Fragmentos do Horror – Junji Ito e Akemi Ono (edição 2017)
Esta coletânea dos contos de terror de Junji Ito não é um livro de terror incrível só para fãs de mangá, é também uma junção das histórias mais bizarras e perturbadoras que a literatura de horror já presenciou.
Para quem não está familiarizado com Junji Ito ou não conhece muito sobre os mangás de terror, o cara é um monstro na área. Ele trabalha, em seus desenhos e suas histórias, com aquele “vale da estranheza”, uma brecha na nossa maneira de interpretar símbolos e signos, um buraco na nossa capacidade de absorver informações.
Sabe quando você vê um manequim e sente um arrepio? Basicamente, essa sensação é causada justamente pelo fenômeno do “vale da estranheza” – o seu cérebro processa uma imagem que apesar de parecer muito a imagem de um ser humano, não é.
Junji Ito trabalha essa sensação de uma maneira primorosa em seus contos, lidando não só com imagens perturbadoras, mas também com medos humanos: loucura, delírio, relações familiares, fantasmas – é claro, afinal, estamos falando do Japão – e seres tão distantes da nossa realidade que sequer conseguimos entender.
Nesse aspecto, seus contos lembram bastante o horror cósmico de H.P Lovecraft.
Fragmentos do Horror é um dos livros de terror que você precisa ler e reler sempre que puder. Os contos são pequenos mas te darão pesadelos, afinal, eles perambulam entre o repugnante, o assustadoramente real, o quase cômico e o inesquecível.
- Descubra aqui: pegue um voo para o lado mais perturbador do Japão
Paraíso Perdido – John Milton (edição 2018)
John Milton é um autor indispensável para amantes de livros de terror – infelizmente, ele é pouco lembrado pela cultura pop em geral.
Esta edição de Paraíso Perdido é um presente para fãs do gênero, um livro maravilhosamente bem editado e perfeito para deixar na mesa de centro. Mas tome cuidado: se você receber visitas que não curtem tanto o universo do horror, talvez não seja uma boa ideia permitir que elas folhem as páginas desta edição da DarkSide.
Paraíso Perdido é um poema de John Milton que narra a queda dos anjos expulsos do paraíso que planejam sua vingança nas chamas do Inferno.
Impedidos de atacar diretamente o céu, eles buscam confrontar a criação divina: o homem.
Para quem não é tão familiarizado com poemas, a ideia de embarcar nessa história em rimas e estrofes pode parecer um pouco ousada, mas fique tranquilo: Paraíso Perdido é assustadoramente envolvente e sua estrutura lírica desperta sentidos que certamente não seriam despertados se a mesma história fosse contada em um romance em formato de prosa.
Os dez mil versos de Milton sobre a criação do mundo, a tentação e o desejo por redenção receberam reconhecimento instantâneo e serviram de inspiração para peças de teatro, músicas, pinturas e livros, ecoando na obra de mestres como Mary Shelley, C.S. Lewis e Neil Gaiman.
Depois de mergulhar nessa edição em quadrinhos – sim, quadrinhos! – do poema clássico que perturbou a vida de seu autor, você pode buscar um pouco mais sobre a história de John Milton e se aventurar no pior dos horrores: a realidade de um homem que ditou o poema de sua vida para que seus ajudantes, amigos e filhos o escrevessem porque estava vivendo seu próprio inferno provocado pela gota.
- Veja mais aqui: descubra a história do mundo em Paraíso Perdido
H.P. Lovecraft – Medo Clássico – Vol. 1 (edição 2017)
É claro que eu não poderia deixar este clássico da DarkSide de fora desta lista!
Falar de livros de terror e não falar de Lovecraft é quase uma ofensa. Ele é considerado o pai do horror cósmico – citei esse termo anteriormente quando falei de Junji Ito – e fonte de inspiração para todos os outros autores de terror que surgiram depois dele.
Você provavelmente já ouviu falar que o melhor tipo de medo é aquele que não se revela em sua totalidade, que não se mostra inteiramente e que está tão longe da nossa concepção de realidade que sequer somos capazes de enxergá-lo quando ele se materializa em nossa frente.
Alan Moore já trabalhou essas propostas se inspirando em Lovecraft; Stephen King então, nem se fala! It é praticamente uma homenagem ao autor.
H.P Lovecraft praticamente criou sua própria mitologia com deuses e entidades ancestrais.
O Medo Clássico Vol. 1 é uma seleção especial de contos e novelas do autor que revolucionou o terror e a ficção científica no século XX – em uma edição que brilha no escuro e que vai deixar a sua estante assustadoramente ainda mais linda.
Cada ilustração consegue transmitir de uma maneira muito eficaz o que cada conto trabalhado no livro buscava transmitir.
A obra também conta com uma seleção de cartas e documentos coletados pelo historiador Clemente Penna na Brown University especialmente para esta edição. Entre os contos, os clássicos Dagon, O Chamado do Cthulhu, Nas Montanhas da Loucura e a Sombra Vinda do Vento.
- Descubra mais aqui: Embarque no Medo Clássico de H.P Lovecraft
Bom dia, Verônica – Andrea Killmore (2016)
Finalmente, uma obra nacional na lista! Mas esta não é a única obra brasileira publicada pela DarkSide, a editora tem outros títulos excelentes de autores brasileiros.
Bom dia, Verônica é um thriller policial, um suspense envolvente e ágil, com uma personagem principal cativante e muito bem construída. A autora narra, em primeira pessoa, a vida de Verônica, uma secretária da polícia que, em um curto espaço de tempo, presencia de forma abrupta o suicídio de uma mulher dentro da delegacia e recebe uma ligação anônima de uma mulher que denuncia o próprio marido.
Verônica, até então uma “simples” secretária, decide investigar os casos por conta própria já que seu chefe inicialmente não lhe dá espaço e nem ouvidos.
E é aí que um furacão de acontecimentos prende Verônica em uma teia de aranha.
Bom dia, Verônica é uma obra ímpar realmente capaz de te tirar o fôlego. As descobertas de Verônica são intercaladas com a vida da mulher que denunciou o marido e, então, nós nos vemos na pele dessas duas mulheres que apesar de aparentemente estarem do mesmo lado do tabuleiro, são antagonistas pois vivem realidades muito diferentes.
- Veja mais aqui: Bom dia, Verônica
Edgar Allan Poe – Medo Clássico (2017)
Por último, mas não menos importante, uma edição “Medo Clássico” de um dos poetas e autores mais misteriosos de todos os tempos.
Muitas vezes visto como genial, muitas vezes visto como maldito, Poe é considerado o mestre dos mestres dos livros de terror e da literatura fantástica.
Desde o século XIX, o pai de “O Corvo” segue influenciando gerações – e surpreendentemente sua obra continua atual.
Os contos desta edição mudaram os rumos da literatura ocidental e criaram mitos. Esta obra é uma homenagem a Poe em todos os detalhes, inclusive pela nova tradução feita por Marcia Heloisa, pesquisadora e tradutora do gênero.
As ilustrações do o artista gráfico Ramon Rodrigues também indiscutivelmente incríveis. Sem falar, é claro, do conteúdo. Pela primeira vez numa edição nacional, os contos estão divididos em blocos temáticos que ajudam a visualizar a enorme abrangência da obra.
A morte, narradores homicidas, mulheres imortais, aventuras, as histórias do detetive Auguste Dupin, personagem que serviu de inspiração para Sherlock Holmes. O livro ainda conta com o prefácio do poeta Charles Baudelaire, admirador confesso de Poe e o primeiro a traduzi-lo para o francês.
Se esses não forem motivos suficientes para te fazer querer ter esta obra em casa, fique sabendo que esta edição ainda conta com “O Corvo” na sua versão original, em inglês, além de reunir suas mais importantes traduções para o português: a de Machado de Assis (1883) e a de Fernando Pessoa (1924).
- Conheça aqui: Edgar Allan Poe – Medo Clássico (2017)
Bem, acho que há opções de livros de terror da DarkSide para todos os gostos aqui, certo? Cada uma dessas obras me tocou de um jeito muito particular, espero que elas também dialoguem com você de alguma maneira! Boa leitura e bons pesadelos.
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