Diário de Sobrevivência no show do Justin Bieber

Apesar de ter prometido ao Leo que nunca falaríamos de Justin Bieber no MHM, venho neste texto quebrar esse pacto. Mas primeiro, algumas explicações. Cinema e shows sempre foram minhas editorias favoritas desde que comecei a trabalhar com jornalismo cultural. Em qualquer chance de pegar uma cabine de imprensa para um filme ou cobertura de […]

O MHM foi ao show do Justin Bieber e te conta como foi a traumatizante experiência

Apesar de ter prometido ao Leo que nunca falaríamos de Justin Bieber no MHM, venho neste texto quebrar esse pacto. Mas primeiro, algumas explicações.

Cinema e shows sempre foram minhas editorias favoritas desde que comecei a trabalhar com jornalismo cultural. Em qualquer chance de pegar uma cabine de imprensa para um filme ou cobertura de show lá estava eu. Assim, consegui assistir a grandes filmes como “Vingadores”, “Hobbit” e ir a grandes shows como “Lollapalooza”, “Rock in Rio”, etc.

Do mesmo modo, caiu nas minhas mãos fazer a cobertura do show do Bieber. Sim, eu estive lá e sobrevivi. Juro que fui de coração aberto e com o mínimo de preconceitos contra o cara, mas é muito difícil não odiar ele quando você o vê ao vivo. O  relato dessa experiência você vê aqui:

19h – Chego na Arena Anhembi. De longe o taxista comenta a sujeira absurda na rua. Resultado da multidão que acampou e esperou durante dias pelo show

19h03 – Vejo um grupo de crianças serem impedidas de pularem as grades do local.  Na entrada de imprensa  – que também dá acesso ao backstage – meninas tentam de qualquer jeito entrar e dois seguranças fazem corrente humana, o possível e o impossível, para que ninguém passe.

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19h08 – Erraram meu nome no credenciamento. Tive que puxar o e-mail no celular de confirmação, mostrar documento e identificação do veículo. Que sorte a minha.

19h24 – A assessoria libera passagem para dentro do show. No caminho, dá para ter um pouco de visão do backstage e camarim. Alguém passa por lá – que não é o Bieber – e uma  pequena quantia de fãs vai ao delírio. Ao finalmente chegar na pista premium, dá para ver uma multidão de meninas se aglomera na  grade para tentar conseguir acesso aos bastidores.

Uma fã mais exaltada grita para todos que tentam entrar: “Como ele é? Você viu o Justin? Me diz, como ele é?”. Se ela que é fã do cara não sabe, como é que eu vou saber?

19h30 –  Começa o “show” de abertura. No palco, a banda p9, na pista, uma gritaria absurda e surreal. Os “meninos” tentam emular o visual do artista principal da noite, da pior maneira possível. O som deles é tão chato e insosso que me faz desejar que o público continue gritando até que eles saiam.

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19h47 – Para passar o tempo e ver se esqueço do P9 vou ver como está o trânsito ente a pista normal e premium. Engarrafado. Uma confusão absurda. Enquanto muitas meninas tentam invadir para ver o Justin de perto, os bombeiros tentam levar a galera que passou mal na frente do palco para a enfermaria na pista normal.

20h – O p9 sai do palco. Obrigado.

20h02 – A turba barulhenta sobe varios tons quase estourando meus tímpanos a cada roadie que tenta afinar um instrumento. Se o DJ muda de faixa, ou um helicoptero sobrevoa, mais gritos. “O anjo virá do alto?” Pensam as garotas. “Mais fácil vir do inferno”, penso eu.

20h13 – Mais gritos de comemoração. A razão? A apresentação nos telões do plano de evacuação do local… vai entender!

20h33 – Algumas mães abordam o grupo de jornalistas onde estou para relatar uma série de assaltos que está rolando na pista premium. Elas reclamam que as filhas foram assaltadas ao passarem mal próximo ao palco. Levaram carteiras, celulares, pulseiras da pista premium e até sapatos das meninas. Triste.

20h56 – Algumas poucas vaias pela quase uma hora de demora. Ele não vai entrar nunca?

21h07 – Nos telões, começa um cronômetro de 10 minutos para o começo do show. A cada minuto que vira, as meninas gritam juntos ansiosas.

21h18 – Após uma hora e meia de atraso, começa o show.

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21h23 – Nem cinco minutos de show, já dá para perceber o playback.

21h32 – Finalmente Bieber começou a cantar de verdade! E ele canta bem. Me faz pensar que todo aquele playback é preguiça de ter que cantar afinado e dançar ao mesmo tempo. Um recurso vergonhoso usado por muitas figuras da música POP  e que ele, sinceramente, não precisaria.

21h40 – Nos telões, uma série de projeções relembram a carreira e todos os prêmios que ele o cantor ja recebeu. Egotrip desnecessária que me faz odiar um pouco ele. Já pensou se Rolling Stones parasse pra fazer isso? Cresce moleque!

21h46 – Pausa para pegar uma água e petisco.

21h52 – Pausa para ir no banheiro.

21h56 – Voltei. Aparentemente, não perdi nada

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21h58 – O cantor começa a tocar “Die at your arms” e, poxa! A música até que é boa. As canções do Bieber são muito bem produzidas e estão no padrão de qualidade OK para o POP. Talvez tanta antipatia venha da postura dele. No palco, parece nunca querer sair feio na foto. Sempre fazendo carinha de mau e pose de bad boy, mas acaba saindo mais como mala sem alça. Ainda tem um grande abismo entre ser um ídolo teen e se tornar um ícone POP. Um pouco de simpatia e carisma ajudariam na jornada.

22h03 – Biber pega uma câmera de filmagens e registra a galera que está na frente do palco. Lembra muito cenas das multidões zumbi de Walking Dead.

22h10 – Depois de uma música em versão acústica onde soltou a voz, playback is back em “Never say never”. Ah garoto safado! A diferença é tão gritante não engana.

22h20 – Justin Bierber chama uma fã para ‘dançar juntinho’ com ele no palco. Acredito que parte da minha capacidade auditiva foi embora neste momento.

22h24 – Outra sessão biográfica. Outra vez irrelevante. A necessidade de auto-afirmação é patológica. Até curti o vídeo dele tocando bateria quando pequeno, mas mostra que o lado pedante vem da fralda, o pivete já era tão talentoso quanto arrogante.

22h26 – O cara resolve tirar a camisa. Eu sou um novo deficiente auditivo.

22h36 – Aparentemente acabou o show.

22h37 – Não, um bróder surgiu no telão e pediu pra ele voltar.

22h40 – Justin Bieber esquece o microfone no chão e continua cantando. Ainda bem que o playback tá lá para continuar a música, né?

22h41 – Alguém joga alguma coisa no Bieber e o broder sai do palco sem cantar “Baby”. Poutz, que pena.

22h46 – “Se você falar mal do Justin eu vou por fogo na sua casa. A gente vai na porta dela fazer protesto, você vai ver”, diz uma fã para mim, ao perceber que sou da imprensa.

22h51 – A horda se desintegra em prantos, meninas se descabelam na maior condição de “minha vida já era!”. Mas o amadurecimento social da nação parece falar mais alto “Tinha que ser no Brasil para acontecer isso”. Carlinhos Brown knows that feelling. Há quem ser martirize “Volta Justin, por favor. Me desculpa!”.

22h57 – A enfermaria parece um campo de Guerra, ou um dia comum no SUS. Um outro bróder, da imprensa, comenta “Eu já cobri show do Ratos de Porão no começo e nunca vi algo tão punk assim”. Meninas tentam passar de qualquer jeito da pista normal para a premium, ali elas tentam entrar no backstage para ver o cantor. Pais tentam remover sua prole que passa mal para um lugar mais arejado. Um pouco assustador.

23h01 – Vou para casa encher a cara e ver se salvo um pouco da minha noite.

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Resumo da noite:  Fui querendo ver um grande show de música POP e acabei assistindo a uma apresentação mediana para baixo. Bieber não precisa de playbacks, mesmo assim se apoia neles por preguiça de querer se manter afinado durante as momentos de expressão corporal. E olha que ele podia usar umas aulas de dança.

As músicas não são insuportáveis e tem uma boa produção, porém a atitude do cantor no palco incomoda muito e gera mais antipatia do que outra coisa (para quem não é uma menina com menos de 17 anos, digo 12, claro). Sou daquele que evita falar mal se não conhece direito alguma coisa. Se não gosto de um som, simplesmente não ouço.

No final a intenção curiosa de gostar e aprender virou tédio, ódio e insônia por estresse auditivo. Se antes tinha um pré-conceito, virou um conceito definido. Justin Bieber não é nada demais e, se não mudar de postura, estará fadado a ser um ídolo teen para sempre, sem qualquer apelo para quem não tenha uma fase hormonal confusa

► Créditos Fotos:  Camila Cara/ Divulgação T4F

Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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