Para o torcedor do Liverpool, Mohamed Salah é sinônimo de gol. Para o Egito, ele é considerado um Rei. Para os muçulmanos, é a grande ídolo e responsável por diminuir a intolerância islâmica do ocidente.
+ Veja todos os vencedores da Champions League
+ Conheça os grupos da Copa do Mundo 2018
Atacante velocista do time inglês, Salah, 25 anos, tem a impressionante marca de 43 gols em 47 jogos na temporada. O suficiente para coroá-lo com o feito de melhor jogador da Inglaterra e levar seu time para a decisão da Champions League, contra o Real Madrid.
Salah virou um dos ídolos máximos do seu país natal ao levar a seleção do Egito de volta à Copa do Mundo, depois de 28 anos, em um jogo tenso, decidido aos 49 do segundo tempo da partida final com um gol de pênalti seu.
Com música especial da torcida e respeito do seu time e adversários, o egípcio ganhou status de craque global e tem todos os atributos para brigar pelo título de Melhor do Mundo nesta temporada.
Da periferia do Egito para o centro do mundo: a História de vida de Mohamed Salah
Desde pequeno, Mohamed Salah queria ser um jogador de futebol. Sua inspiração veio de ídolos como Ronaldo (o brasileiro), Totti e Zidane. O problema é que, para colocar seu sonho em prática, ele precisava de um esforço bem maior.
Primeiro, porque o Egito nunca teve tradição de revelar bons jogadores para o mundo. Com poucos clubes, Salah assinou seu primeiro contrato aos 14 anos, com o Al Mokawloon, um time que fica na capital Cairo, a quatro horas de meia de viagem de Nagrig, sua cidade-natal. Para jogar bola, ele tinha que perder nove horas de deslocamento todos os dias.
Como é um velocista, começou como lateral esquerda. Foi seu treinador da base que enxergou no futuro atleta um potencial maior no ataque. A mudança resultou em 35 gols no campeonato..
Subiu para o time profissional, mas teve que interromper sua carreira devido ao massacre no Estádio Port Said, em fevereiro de 2012. A tragédia resultou na morte de 74 pessoas, durante uma partida de futebol, que se tornou um palco de guerra. O campeonato do país foi suspenso por dois anos e os jogadores ficaram desempregados.
Foi graças a um amistoso contra a seleção sub-23 do Egito que Salah foi garimpado pelo time suíço Basel, com um técnico que ficou impressionado com sua velocidade. Salah ficou pouco mais de uma temporada no clube da Suíça, o suficiente para fazer gols e ajudar a eliminar Tottenham e Chelsea na Liga Europa. Este último acabou contratando-o para integrar ao elenco.
Nos Blues, acabou ficando no banco por falta de confiança do técnico José Mourinho, o que resultou na sua pior passagem por um clube. Virou moeda de troca com a Fiorentina, de onde se transferiu para o Roma, marcando 34 gols em 83 jogos e conseguindo a visibilidade para ser contratado pelo Liverpool e voltar para a Premier League.
No time inglês, Salah foi contratado em junho de 2017 por 42 milhões de euros fixos (cerca de R$ 156 milhões), mais oito milhões (cerca de R$ 29 milhões) de bônus dependendo de conquistas do time e da performance do jogador. Com a transferência, tornou-se o africano mais caro da história do futebol.
Com ajuda do técnico Klopp, Salah tornou-se peça-chave de uma equipe que tem por essência jogar para frente, resultando em partidas definidas em intervalos muito curto de tempo.
O primeiro jogo das quartas de final da Liga dos Campeões, contra o Manchester City, foi um exemplo disso, com um gol do atacante. Na vitória por 5 a 0 sobre o Watford, pelo campeonato Inglês, ele marcou quatro vezes. Um feito inédito na sua carreira.
O resultado se deu com o Liverpool conquistando a vaga para a final da Champions League e disputando com o Real Madrid o título de melhor clube da Europa.
Mohamed mudou a visão do mundo para os muçulmanos
A bela atuação de Salah não se resume ao que ele faz só dentro de campo, mas principalmente fora dele. Só para você ter uma ideia, quando o dinheiro egípcio despencou de valor em 2017, Mohamed doou 210 mil libras (cerca de R$ 1 milhão) para ajudar o governo do seu país a reequilibrar suas contas.
Não era a primeira vez que o jogador fez um ato de filantropia em prol do seu país natal. Ele já construiu escolas e comprou ambulâncias para Nagrig, cidade em que nasceu.
No próprio feito de levar o Egito para a Copa do Mundo 2018, um empresário do país, emocionado com a conquista, ofereceu uma mansão luxuosa para o jogador. Este, recusou o presente e disse que ficaria mais feliz se o empresário fizesse uma doação a sua cidade Nagrig.
Em um momento em que a onda de ataques contra muçulmanos estão aumentando no Reino Unido e a onda anti imigração ter ganhado peso, Salah não esconde sua fé islâmica. Muito pelo contrário.
Ele ter por costume comemorar seus gols fazendo o “sujood”, gesto típico muçulmano de ajoelhar-se e encostar a testa no chão, que representa elevação espiritual.
Os torcedores do Liverpool, vendo a devoção do atacante e como forma de retribuir suas boas atuações, acabaram por fazer uma música afirmando que, se ele continuar fazendo gols, os torcedores se converterão para o Islã.
Oscar took his homework to another level tonight ⚽️❤️ … He had to use words ending in ‘ng’ he said oh I know king. I know a song too then he came up with this #MoSalah #egyptianking @22mosalah @LfcNo10 …. he hopes salah sees this and his pyramid ?? pic.twitter.com/qyB5Chaoz8
— Sarah-Marie Bridson (@SMBRIDSON) 6 de fevereiro de 2018
Se ele é bom o bastante para você, ele é bom o bastante para mim. Se ele marcar mais alguns, serei muçulmano também. Ele está sentado na mesquita, é lá que eu quero estar
Em entrevista ao Globo Esporte, o líder religioso da maior e mais antiga mesquita de Liverpool, enxerga que o alcance do jogador tem valor incrível para a comunidade.
– Salah e o que ele conquistou em um período tão curto de tempo é fenomenal. Muitas pessoas nesse país amam futebol, e o futebol é capaz de transpor barreiras que separam as pessoas. Ele tem sido um embaixador da nossa comunidade. Eu, que sou o Imã, que tenho o trabalho de convidar as pessoas para o islã, não teria conseguido conquistar o que Salah conquistou ao chutar a bola a gol.
Been to anfield today to see where his hero sits ⚽️❤️@22mosalah pic.twitter.com/g5EC3QHQvw
— scott alcock (@Alc0ckS) 1 de abril de 2018
Vale lembrar que Salah não é só homenageado pela torcida adulta, mais se transformou em um ídolo infantil, seja ele residente da Inglaterra ou mesmo na África, que veem nele o herói que deixou a pobreza para trás.
Embora sua seleção não tenha um elenco para disputar o título da Copa do Mundo, pode ter certeza que Mohamed Salah não só ficará marcado na história do futebol, bem como pelo seu exemplo e inúmeras ações beneficente fora das quatro linhas.
Comentários
Importante - Os comentários realizados nesse artigo são de inteira responsabilidade do autor (você), antes de expressar sua opinião sobre temas sensíveis, leia nossos termos de uso