Fifa, a dona da palavra, do estádio e da bola

Soube que a senhora Fifa registrou a palavra Pagode e outros 200 nomes como marca própria no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual). Trocando em miúdos, até dezembro a entidade tem a posse de usar termos como Natal, 2014, Pagode, nomes das cidades sedes à sua vontade e proibir, com processo judicial e tudo, qualquer […]

A endidade faz o que bem entende antes, durante e depois do torneio

Soube que a senhora Fifa registrou a palavra Pagode e outros 200 nomes como marca própria no INPI (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual). Trocando em miúdos, até dezembro a entidade tem a posse de usar termos como Natal, 2014, Pagode, nomes das cidades sedes à sua vontade e proibir, com processo judicial e tudo, qualquer um que fizer uso comercial delas.

Com o apoio da Lei Geral da Copa e da subserviência de nossos políticos, a Fifa tem plenos poderes para fazer o que bem entender no Brasil antes, durante e depois do torneio, dando margem a esses excessos.

A Lei da Copa, assinada pelo Congresso Nacional, deu à Fifa direito à tramitação acelerada dos pedidos de registro de marcas no INPI. Sem falar na isenção de taxas. Em condições normais, estes processos dificilmente chegam ao fim em menos de três anos. Os da Fifa não completaram 12 meses. Desde a promulgação da Lei 12.663, de 5 de junho de 2012, a entidade fez 236 solicitações. Há 188 aprovadas e sete a caminho. Restam 39 em análise ou recurso. Apenas duas foram definitivamente indeferidas. (Fonte O Globo)

Fifa manda no Brasil 4

Assim, todas os nomes das capitais que receberão os jogos estão registrados como domínio da entidade. A competição que foi acompanhada por 3,2 bilhões de pessoas no planeta é uma mina de dinheiro. De cada dólar de receita, 70 centavos vêm das explorações comerciais. E é por isso que a Fifa cerca tudo o que pode para lucrar por aqui.

Sabe aquela fábula do ladrão que, quanto mais assaltava a casa, menos preocupado e mais oportunista ficava, deixando seus moradores atônitos e tomando toda liberdade que lhes cabia. Pois é com este conto que consigo resumir os mandos e desmandos da Fifa para com a Copa do Mundo no Brasil.

Como um hóspede indesejado e espaçoso, primeiro a Fifa tomou dos brasileiros o direito de torcer. As novas áreas não permitiam que a conhecida vibração das arquibancadas fosse entoada. Com numeração demarcada, deveríamos sentar como um bom torcedor ‘coxinha’, olhar o ‘espetáculo’ e, no máximo, aplaudir, já que insultos não eram permitidos e passíveis de punição.

Fifa manda no Brasil 5

A esta altura, já sabíamos que o famosos sanduíche de pernil, acarajé, rabo de gado e pinga com limão eram, igualmente, vetados. Em um raio de 2 a 3 quilômetros, nenhum vendedor ambulante podia ganhar seu trocado e fazer a nossa alegria, enchendo nosso pandú e embriagando-nos antes do tempo. Tirou toda a graça de torcer nos estádios.

O que falar do nosso direito de escolher o que tomar nos estádios. Se nos torneios de futebol aqui realizado não podíamos ingerir uma gota de álcool, a entidade internacional não só fez o congresso permitir o consumo na Copa do Mundo, como impôs qual cerveja deveríamos tomar. Com tantos rótulos por aqui, teremos que ingerir goela abaixo uma marca norte-americana.

Vale lembrar que o mesmo foi sugerido na Copa da Alemanha, mas estes, por coerência e não subserviência, recusaram a ideia e comercializaram a cerveja alemã nos campos.

O que falar do famoso legado pós da Copa, anunciado aos quatro ventos na campanha para escolher o país sede não veio. As benfeitorias são quase nulas, e o torneio vai encerrar-se sem rodovias construídas, metrôs e trens prontos, aeroportos em construção. O legado, se um dia for concluído, será muito depois da Copa.

Como bem disse Ronaldo Nazário: “A Copa não é feita de hospitais”. Então, por que se iludir?

Agora, poucos dias antes do início da competição, veio mais esta notícia. A Fifa tomou palavras chaves do nosso dicionário como patentes sua. O pagode, uma expressão da cultura brasileira, não é mais de domínio público, e seu uso comercial é passível de processo junto a Fifa.

Zeca Pagodinho, Jorge Aragão, Exaltasamba terão que rebolar ao explicar quais show farão ao seu público nesse meio tempo.

Não duvido se os próximos passos da entidade seja criar regra quanto as nossas vidas pessoais. Imagina se ela montar uma cartilha padrão Fifa de como fazer sexo. No estilo, modere o linguajar, pegada forte não é permitido, sonoridade baixa para não atrapalhar os vizinhos.

Aos brasileiros, basta saber quantas regras cagadas teremos que engolir. Depois de tanto abrir as pernas, resta a nós, pelo menos, levarmos o mundial como prêmio de consolação, assim como o dinheiro de uma puta depois de participar de uma suruba.

Leonardo Filomeno
Leonardo Filomeno

Jornalista, Sommelier de Cervejas, fã de esportes e um camarada que vive dando pitacos na vida alheia

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