Pai, obrigado por criar um homem de verdade

Pai,

Hoje sei que a vida é muito atribulada e é difícil conciliar família com trabalho. Por isso, primeiro eu queria dizer obrigado por ter dedicado um tempo precioso na sua vida para a minha concepção e criação.

Hoje sei que a vida não é fácil e os caminhos que você acaba percorrendo muitas vezes são complexos demais para compreender. Por isso, obrigado por nunca esconder o jogo, ser verdadeiro e mostrar a realidade desde pequeno.

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Eu questionava seu jeito fechado, suas broncas e orientações, me impedindo de fazer muitas coisas que, na época, eu julgava correto. Por isso, pai, obrigado por me proteger das escolhas ruins.

Eu não entendia como alguém podia trabalhar tanto tempo em um lugar e, mesmo assim, acordar com a mesma dedicação e empenho como se fosse o primeiro dia no emprego. Por isso, obrigado pai por me mostrar o valor do trabalho.

Sempre que cometia um erro ou me machucava, você me deixava de castigo e me deixava sofrer as consequências das minhas travessuras. Obrigado por me ensinar os valores das coisas; que Merthiolate arde (mas cura) – assim como Novalgina era amargo pra caramba -; e a lidar com as consequências dos meus atos e a suportar as adversidades do momento.

Eu não compreendia porque tinha que pedir licença, esperar a minha vez, ouvir e respeitar as pessoas mais velhas. Hoje, agradeço pai por me fazer aprender e conviver com autoridade e hierarquia.

Eu via pessoas que ralavam muito menos e conquistavam muito mais coisas que você, pai. Principalmente, não entendia porque você não gostava de levar vantagem, já que muitos fazem isso e se davam bem. Hoje eu agradeço, pai, por me ensinar o valor da honestidade, que não existem atalhos e que as realizações só vem somente com trabalho duro, esforço e dedicação.

Muitas vezes eu sentia que um abismo existia entre seu modo de pensar e o meu. Você não tinha os mesmos gostos e opiniões que eu ou a minha geração. Por isso, obrigado pai, por me ensinar a entender e respeitar o pensamento divergente.

Não entendia como você e a mãe não viviam como aqueles casais de propaganda de margarina ou filmes de comédia romântica ou novela. Porque discutiam, se chateavam e depois estavam juntos novamente. Hoje, eu agradeço pai, por ter me ensinado o que é relacionamento de verdade e que o respeito e a base de qualquer coisa.

Nunca entendi o porque você não era popular, não tinha muitos amigos e nem vivia no bar, como outros pais que eu julgava descolado e legal. Por isso, obrigado pai por me ensinar a confiar nas pessoas certas, valorizar e viver para a família.

Por muito tempo você foi duro demais consigo mesmo. Somente depois que a vó morreu eu vi a lágrima escorrer dos seus olhos. De lá para cá, você perdeu o medo de expressar seu sentimento, chorando em ocasiões das mais diversas, como aniversário ou casamento de um dos filhos. Por isso, obrigado, pai, por me ensinar a não ter vergonha de demonstrar as emoções.

Eu não entendia como alguém com pouca escolaridade e que viveu para trabalhar se esforçava ao máximo para fazer com que seus filhos tivessem uma formação e se dedicassem ao estudo. Por isso, pai, obrigado por priorizar a educação na minha vida.

Meu pai não foi um cara só a vida inteira. Ele foi se transformando ao longo do tempo, mudou muitos pensamentos, reviu alguns preconceitos e o modo de viver (por mais que fosse contra aquilo que pensava em um momento anterior). Por isso, pai, muito obrigado por não ter medo de mudar e buscar sempre ser uma pessoa melhor.

Esta é uma carta desabafo de filho orgulhoso de seu pai. Espero continuar seus ensinamentos no futuro e ter a oportunidade – se a vida assim me achar merecedor -, de ter a chance de passar alguns aprendizados que tive com você, meu velho, para meu futuro filho(a).

Do seu filho que te ama muito,
Leonardo Filomeno

E para você: qual foi a grande lição que seu velho te ensinou?

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