A ditadura da felicidade e a importância da tristeza em sua vida

Em uma época em que a felicidade é imposta como estilo de vida, resolvemos falar como você deveria lidar com todas as suas emoções

Nas livrarias, sites da web, vídeos do youtube, capas de revistas, programas de treinamento, retiros, consultórios profissionais. Diariamente e por diversos lugares, somos bombardeados por uma avalanche de informações, dicas, sugestões, orientações e receitas para alcançar a tão sonhada felicidade.

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Caçamos o sentimento de alegria absoluta como um objetivo máximo da vida. Como se fosse um Olimpo, o Paraíso, a Terra Prometida. Sua existência não terá valido a pena se você não chegar lá. Mas será que você precisa realmente disso para viver?

Estava com estes pensamentos na cabeça quando fui ver o fantástico filme da Pixar, Divertida Mente. O longa, apesar de focado no público pré-adolescente, levanta uma discussão muito adulta sobre como lidar com diferentes emoções e qual a importância de cada uma para a evolução e amadurecimento da pessoa. Ensinamentos para pais e filhos.

E sobre isso que quero falar. Precisamos de felicidade ou somos dependentes negativamente do sentimento tal qual um usuário de cocaína?

Os problemas por trás da busca pela felicidade

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Essa corrida incessante pela felicidade oferece problemas comuns para o indivíduo contemporâneo. O primeiro é o excesso de ansiedade, obrigando a pessoa buscar sempre o algo a mais para atingir o sentimento supremo. A eterna corrida do cachorro por seu rabo.

Por consequência, isso leva ao segundo e, talvez, maior problema: a frustração. Como esse ‘algo a mais’ não é palpável e nem é um sentimento pleno – você não é feliz, tem momentos felizes – acaba sofrendo frequente frustrações, pela incapacidade de atingir o objetivo e pelos resultados, quase sempre, inferiores e medíocres.

Pesquisas e estudos contemporâneos revelam um número assustador que crianças estão entrando em depressão cada vez mais cedo. Sentimentos de ansiedade, tristeza e angústia estão mais comuns nos pequenos e elas não receberam a estrutura emocional para lidar com isso.

Vários fatores influenciam esses números. A pressão da sociedade, o bullying e, principalmente, a inserção de crianças despreparadas emocionalmente no ambiente online têm contribuído para o crescimento de crianças sofrendo com problemas de depressão.

Mas, como revelamos por aqui, a depressão está longe de ser um problema exclusivamente infantil. Ela afeta tanto crianças como adultos. Muitas vezes, por eles tomarem como regra a afirmação: “Se você não se sente feliz o tempo todo, certamente está fazendo algo errado”.

Sofrer também é preciso

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Trabalhar a ausência de felicidade ou a tristeza – falar, sentir e enfrentar ela – não é uma atitude fácil e, em um mundo cada vez mais individualista, é uma ideia que costuma ser ignorada por muitas pessoas.

“Existe um preconceito em relação à tristeza. Busca-se negá-la e supervalorizar a alegria. Na nossa sociedade, a tristeza só é valorizada na música, na literatura e na pintura”, afirma John Fontenele Araujo, doutor em psicologia na área de neurociência e professor do Departamento de Fisiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em entrevista para o Uol.

Rechaçada por muitos, a tristeza deveria funcionar como um luto necessário para que a pessoa aprenda com as adversidades ou escolha um novo caminho a seguir. Em muitos casos, este sentimento funciona como uma espécie de sinal, apontando que alguns atos ou escolhas precisam ser modificados.

Às vezes, o próprio caminho para um momento feliz precisa passar por algum tipo de provação ou sofrimento. Neste momento, a tristeza, além de ser um indicador para as pessoas próximas de que você precisa de ajuda, alimenta um outro sentimento válido e necessário: a esperança.

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“Como a capacidade de adaptação do ser humano às diferentes situações de vida é impressionantemente rica, podemos supor que a esperança, na maior parte das vezes, é um sentimento realista e otimista de que tudo pode terminar bem ou, pelo menos, melhor do que está”, declara Marcelo Pio de Almeida Fleck ao Uol, professor titular de psiquiatria no Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS.

A própria ideia do filme Divertida Mente surgiu depois que o diretor Pete Docter observar sua filha, uma criança feliz, que entrou para a pré-adolescência e começou a ficar pelos cantos, amuada. Ele se perguntava: ‘o que aconteceu com a minha garota?

“O que levou Pete a essa ideia, depois de pesquisar, é que, mesmo que queiramos que as pessoas sejam felizes e alegres, elas têm que ficar tristes às vezes. E ele percebeu que tinha que deixar sua filha passar um pouco por aquilo para ajudar no processo de crescimento e em seu equilíbrio. Ela não tinha que ser sempre feliz e animada. Há algo curativo em chorar e passar por um período de tristeza para chegar ao próximo estágio”, acredita Jim Morris, presidente da Pixar, durante visita ao Brasil.

Em um mundo onde as redes sociais pregam a cultura da felicidade, pessoas muito voltadas para sua autoimagem buscam desenvolver uma máscara considerada ideal: a sempre feliz e alegre, sem problemas e com uma vida dos sonhos.

Ninguém baterá tão forte quanto a vida

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Longe de querer ser masoquista ou procurar situações desfavoráveis para dar uma de coitadinho e sofredor. Mas, precisamos aprender a curar nossas feridas, manter o luto e levantar-se sozinho depois de uma queda.

A vida é feita de momentos alegres e tristes. Fato. Não existe uma felicidade plena, geral e irrestrita. Você pode ter um bom momento profissional e seu relacionamento estar uma merda. Sua vida a dois caminhar em mil maravilhas com você desempregado e com contas a pagar.

Não são palavras bonitas que trarão um ambiente perfeito e sorridente para você. Muito menos um livro de colorir. Estes são paliativos para você esquecer por instantes o quão duro é viver. Seu amadurecimento necessita da assimilação das dificuldades. Uma coisa que só você pode fazer.

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Uma certeza que posso dar é que você vai cair por diversas vezes. Vai precisar de forças para se levantar, mudar e tomar um novo caminho. Aprenda a conviver mais com suas perdas do que seus ganhos.

Pouco adianta transformar a sua tristeza em uma alegria aparente, artificial, ditada pelas expectativas da sociedade e pelas redes sociais. Se ser feliz é preciso, mas sofrer é mais que necessário. É vital para sua evolução.

Fontes: Uol Mulher, Uol Cinema

Leonardo Filomeno
Leonardo Filomeno

Jornalista, Sommelier de Cervejas, fã de esportes e um camarada que vive dando pitacos na vida alheia

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