Poucos dias antes do Carnaval chegar, uma marca de cerveja lançou uma propaganda que sugeria as mulheres para deixar o “Não” em casa para facilitar as coisas para os homens no feriado. Outra, por sua vez, usa o termo “Verão” para se referir a uma mulher de bons atributos estéticos que está na praia para servir um cara casado, enquanto sua mulher, indignada, serve de piada e dá o tom do comercial.
Não é de hoje que as campanhas de cerveja brasileira repetem fórmulas antigas explorando o corpo delas e tornando-as como um produto de consumo, assim como o próprio líquido que vendem. Para questionar isso, foi criado a Cerveja Feminista.
“A proposta é fomentar a discussão sobre o machismo nas propagandas, tanto no ramo da cerveja quanto fora dele. Queremos esse assunto nas mesas e queremos que as mulheres não sejam mais esquecidas enquanto consumidoras de cerveja: nós existimos, queremos uma comunicação que nos respeite e que fale conosco de forma justa”, revela Maria Guimarães, uma das criadoras da Cerveja Feminista.
A cerveja se posiciona como “para homens e mulheres” em busca de desfazer mitos sobre o feminismo. Segundo as organizadoras, não é sobre supremacia feminista. É sobre igualdade entre os gêneros.
“A maior parte das propagandas de cerveja do Brasil é muito machista. A maioria não menciona o fato das mulheres também consumirem o produto, apenas usam corpos femininos – que sejam esteticamente agradáveis para eles – para vender. De cabeça e sem muita pesquisa, não lembro de nenhuma propaganda que trate de forma igual aqui no Brasil…”, revela Maria.
A ideia da criação do rótulo é de Maria Guimarães, Larissa Vaz e Thais Fabris, que fazem parte do grupo 65|10, representando um núcleo de ação para repensar o papel das mulheres na publicidade, tanto dentro das agências quanto nas campanhas. O grupo parte de dois números: os 65% das mulheres que dizem não se identificar com a forma como são retratadas na publicidade e os menos de 10% de mulheres no departamento de criação das agências brasileiras.
A receita foi de criação dos cervejeiros Marília Hamada e Otávio Dorneles. O estilo, uma red ale, também tem um propósito. Os donos da cerveja escolheram uma cerveja forte, encorpada, de cor avermelhada, para representar o espírito das mulheres. “Todos sabemos que a cor vermelha é uma cor muito presente em movimentos sociais e de luta por igualdade, por isso optamos por ela”, resume Maria Guimarães.
A Cerveja Feminista é a primeira ação de conscientização do grupo na busca por uma mudança de atitude. O lançamento ainda prevê mesas redondas em bares, lambe-lambes, rótulos informativos e vídeos. A cerveja custa R$ 14. Para adquirir o rótulo, confira este link.
E, convenhamos, não há lugar melhor para iniciar uma conversa sobre o assunto, do que uma mesa de bar.
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