Você pagaria 72 mil dólares por uma Kombi 1969? E por uma Kombi 1969 em escala 1:64? O que é escala 1:64? Bom, imagine um carro 64 vezes menor que um carro de verdade (um sessenta e quatro avos de carro, se você preferir). Pois é, não vai dar pra descer com o pessoal pra praia no fim de semana.
Mas em 2000, um colecionador americano desembolsou 72 mil doletas por esse carrinho e esse é o valor mais alto já pago até por uma miniatura Hot Wheels. O modelo em questão é o Beach Bomb, uma Kombi com uma prancha de surfe saindo da janela traseira. Poucas unidades foram fabricadas, pouquíssimas sobreviveram.
Foi um carrinho feito em uma pré-série, uma produção de teste, que não chegou a ser comercializada. O motivo? A miniatura tinha um centro de gravidade muito alto e capotava com facilidade nas pistas da marca. Além disso era muito estreita e por isso não se encaixava direito nos lançadores que a Hot Wheels vendia (muito bem) junto com as pistas.
A Beach Bomb que chegou às lojas tinha as pranchinhas de surfe montadas em suportes largos nas laterais, o que resolveu o comportamento da miniatura nas pistas.
Os Hot Wheels foram criados pela Mattel em 1968, utilizando um novo tipo de eixo para os carrinhos, que podia girar muito mais rápido. A primeira coleção lançada tinha 16 modelos em escala 1:64. Alguns eram inspirados em modelos reais, como o Custom El Camino, Custom Volkswagen e Custom Mustang, ou em conceitos famosos, como o Custom Deora (baseado em uma caminhonete-conceito apresentada pela Dodge em 1967).
De lá pra cá, foram produzidas mais de 4 bilhões de miniaturas. Isso é mais do que as grandes marcas automotivas americanas já produziram desde que o carro foi inventado. Se todos os Hot Wheels já fabricados fossem enfileirados, eles dariam mais de 4 voltas na Terra.
Como funcionam os lançamentos da Hot Wheels?
A cada ano, são lançados novos modelos, divididos em séries. Cada série tem carrinhos com certas características, como modelos clássicos, modificados ou de fantasia. Por sua vez, as séries também são lançadas e descontinuadas ao longo dos anos, e alguns modelos passam para outra série, ou tornam-se uma série nova. Carrinhos lançados em determinada série anos atrás podem reaparecer em cores diferentes em outras séries.
Além das linhas normais, que compõem a ‘mainline’, a mais barata e mais fácil de encontrar, existem séries especiais, mais caras e detalhadas. Algumas homenageiam antigas miniaturas (com pinturas especiais, semelhantes às utilizadas nos primeiros carrinhos da marca), outras são edições comemorativas de um modelo real (por exemplo, há uma série dedicada ao Mustang), existem os carrinhos temáticos, de filmes ou bandas, entre muitas outras.
Várias dessas edições são equipadas com rodinhas que têm pneus de borracha, e em geral o acabamento é superior ao encontrado nos carrinhos comuns. Algumas dessas edições mais caras trazem até uma advertência explicando que aquela miniatura é um item de coleção, e não um brinquedo. Para vários colecionadores, os pneus de borracha torna os carrinhos muito mais valiosos e colecionáveis.
Na ‘mainline’, as miniaturas favoritas da maioria dos colecionadores são as “Treasure Hunts”, ou “THunts”. Antes uma linha especial, os modelos THunt agora estão espalhados pelas linhas comuns. Tratam-se de alguns modelos produzidos em menor quantidade (a Mattel não revela o número), identificados com um símbolo próprio (atualmente um círculo com uma chama estilizada).
Atualmente são lançados 15 “THunts” por ano, espalhados pelas séries comuns da ‘mainline’. Em anos anteriores, havia 12 por ano em uma série específica, identificada claramente na embalagem. Hoje é preciso encontrar a marca dos “THunt” na miniatura.
A nata dos “THunts” são os “Super THunts”, ou “Supers”, como a maioria dos colecionadores os chamam. São modelos “THunt” identificados com o símbolo da família, mas pintados com uma tinta metálica especial chamada Spectraflame e equipados com rodinhas com pneus de borracha.
A Mattel não revela a quantidade produzida, mas eles são ainda mais raros (e bota raro nisso) que os “THunts” normais. Apesar disso, eles custam o mesmo valor de uma miniatura comum da ‘mainline’, cerca de 7 reais (dependendo do lugar). Contudo, na hora de revender, esses carrinhos podem trocar de mãos por valores 10 vezes maiores, conforme alguns anúncios no Mercado Livre.
Alguns colecionadores gostam de deixar suas miniaturas no blister, a embalagem original. A principal razão é que na hora de revender, a miniatura lacrada vale cerca de 20% a mais que o carrinho fora da embalagem (ou “loose”). Em encontros ou comunidades de troca na Internet (no Facebook tem várias), há colecionadores taxativos que procuram apenas pelos modelos lacrados.
Mas também existem aqueles que preferem as miniaturas respirando, argumentando que chupar bala com papel não tem graça nenhuma. Isso é questão de gosto pessoal, cada colecionador escolhe como prefere seus carrinhos. Mas é importante colecionar aquilo que gosta, e não pensar só em um valor posterior de troca ou revenda – isso acaba deixando sua coleção menos divertida. Ou então é o caso de mudar de ramo e deixar de ser colecionador para se tornar revendedor.
Depois de definir um tema para a coleção e decidir se os carrinhos vão ficar abertos ou se permanecerão nas embalagens, é preciso pensar em como e onde expor a coleção. Há várias opções em lojas e sites especializados, como suportes, estantes e até mesmo redomas individuais para cada carrinho.
É importante que eles fiquem protegidos da poeira e da sujeira, e também de mãozinhas de irmãos e primos mais novos. Vale a pena montar as prateleiras e suportes em lugares um pouco mais altos, deixando os carrinhos na altura dos olhos dos adultos e fora do alcance das crianças.
A graça de colecionar esses carrinhos é poder vê-los sempre. Mesmo que eles permaneçam lacrados, há prateleiras especiais para montar os blisters de maneira organizada (e visível).
Com o tempo, você pode trocar miniaturas com outros colecionadores ou participar de feiras e leilões atrás de algum carrinho especial. Essa é a parte mais divertida, procurar aos poucos pelas peças da coleção.
No começo, a tentação é parar na primeira loja e fazer a feira. Em seguida, ao entrar em contato com os primeiros grupos de colecionadores, surge a vontade de comprar tudo o que for considerado “raro” e “difícil”.
A recomendação para os colecionadores novatos (e para os experientes também) é: calma! A Mattel não vai parar de fazer Hot Wheels hoje (e nem amanhã, ao que tudo indica). Escolha com calma, veja o que você gosta e o que fica bem na sua coleção. A sua conta bancária agradece.
► Texto escrito por Mario Dallari Bucci, que é jornalista, estudante de Direito e acompanha a TV Justiça e o XVideos (mas prefere o último).
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