Você bebe pra esquecer? Então, ferrou: o álcool pode intensificar as memórias ruins

Esse novo estudo vai revirar a sua vida e mudar a sua perspectiva sobre o álcool: na verdade, ele pode fazer experiências as negativas se fixarem em nossa memória depois de um tempo.

Você é o tipo de pessoa que diz: “eu bebo pra esquecer, se fosse pra lembrar eu anotava”? Bom, a ciência tem uma péssima notícia para você: um porre pode te fazer apagar da memória boa parte do que rolou na noite anterior, mas as coisas ruins – aquelas que a gente tenta esquecer – acabam ficando presas no nosso cérebro de um jeito muito mais resistente do que ficariam se a gente tivesse deixado o álcool de lado.

Isso pode justificar porque a ressaca moral é algo tão devastador.

A teoria é reforçada em estudo publicado na revista Translational Psychiatry, elaborado por pesquisadores da Universidade Johns Hopkins, de Baltimore nos Estados Unidos.

Para alcançar o resultado apresentado acima, eles dividiram ratos de laboratório em dois grupos: um dos grupos bebeu apenas água durante duas horas; o outro bebeu uma grande quantidade de álcool. Depois, os dois grupos escutaram um ruído sonoro seguido por uma descarga elétrica – tadinhos.

No dia seguinte, eles escutaram o mesmo ruído, mas, dessa vez, o som não foi seguido pelo choque.

A conclusão do estudo, alcançada pelos resultados do teste, apontou que os ratos que ficaram bêbados no primeiro dia tinham mais medo do ruído sonoro do que os que beberam apenas água. Pois é: os ratinhos embriagados se traumatizaram com o som, enquanto os ratinhos que não beberam álcool não temeram tanto a descarga elétrica que seguiria o ruído.

Ou seja: o álcool prolonga a sensação de medo. Segundo o jornal El País: “A extinção dessa recordação exige receptores do neurotransmissor glutamato (substância relacionada à memória), e quando os compostos do álcool se unem a esses receptores, interferem nas sinapses (comunicação neuronal), levando a que os animais que beberam álcool ‘não se acostumem ao estímulo e não esqueçam a experiência prévia ruim’ explica o neurologista Pablo Irima, diretor da Sociedade Espanhola de Neurologia”.

Você bebe pra esquecer? Então, ferrou: o álcool pode intensificar as memórias ruins

Esse neurotransmissor envolvido na eliminação da lembrança, segundo o jornal, não curte interagir com a bebida: “O glutamato produz rejeição ao álcool. Costuma-se usá-lo no hospital para que os pacientes parem de beber”, explica o psiquiatra e presidente da Sociedade Espanhola de Psiquiatria, Julio Bobes.

Outro estudo divulgado em 2011 já tinha levantado a questão. Nele, os pesquisadores da Universidade do Texas descobriram que tomar uma dose de álcool ativa algumas regiões do cérebro relacionadas ao aprendizado e à memória.

Mas, apesar do estudo ter sido bem divulgado na época, a ideia de que beber faz esquecer o que aconteceu de ruim continua muito difundida por aí. Tanto que, infelizmente, quem sofre de algum trauma acaba exagerando no uso da bebida para apagar essas memórias ruins e, no fim das contas, acaba intensificando o problema.

O estudo da Universidade do Texas aponta que cerca de 60% e 80% das pessoas que sofrem de algum trauma acabam bebendo demais: “Muitos pacientes com estresse pós-traumático se embebedam com a finalidade de fugir da situação, esquecer ou dormir com mais facilidade”, explica Pablo Irima.

Os pesquisadores que levantaram o debate sobre o tema completam: “se os efeitos do álcool nas lembranças desagradáveis forem semelhantes nos humanos, nosso trabalho pode ajudar a entender melhor como funcionam essas memórias e como focar melhor as terapias em pessoas que apresentam estresse pós-traumático”.

Então, já sabe. Se você quer esquecer ou superar um problema, a melhor solução continua sendo a terapia, viu?

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Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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