Como bem avisei em um post anterior, aderi ao pedal há pouco tempo. E pedalando da casa para o trabalho senti necessidade de encampar um desafio maior, algum que envolvesse determinação, superação e adrenalina, coisas que fazem você realmente sentir que a sua vida tem história pra contar. Foi daí que surgiu a ideia de fazer o percurso de São Paulo-Santos de bicicleta.
Quem me levou a isso foi o amigo Gustavo Angimahtz, que apoia a causa e pedala há bons anos. Através dele veio o convite de acompanhar um grupo que ele estava organizando para descer a Rota Marcia Prado. Não hesitei e aceitei na hora.
A empolgação foi mais forte e impediu de analisar se seria capaz de fazer o percurso completo, cerca de 95 km. Na verdade só me dei conta desse número dois dias antes da viagem, quando o Edson, companheiro do blog, avisou que leu o relato sobre o roteiro e viu que não teria bicicleta disponível para acompanhar – para quem quiser ter informações detalhadas da Rota, recomendo este post do blog Pedivelha, bem didático e completo sobre os riscos e trajeto da viagem.
O Desafio
Às 7h da manhã já estava pedalando para encontrar o pessoal. Chegando ao ponto de encontro, na Vila Olímpia, um grupo de mais de 40 pessoas se formou para a aventura. No final seriam 50 pessoas, homens e mulheres, todos devidamente equipados, a maioria com experiência, mas bastantes iniciantes, assim como eu.
Antes de iniciar o trajeto, sinalizo aqui para as coisas imprescindíveis para o roteiro que me foram passadas e que percebi durante a viagem. Se você quiser se aventurar, não esqueça disso:
– Protetor solar: pois o sol da descida castiga bastante;
– Água e isotônico: para refrescar e não hidratar;
– Frutas, barras de cereais e outras fontes de energia: para repor as quase 4 mil calorias perdidas durante o trajeto e te dar força par não ficar no caminho;
– Bicicleta e freios revisados: a rota conta com descidas bem acentuadas, curvas fechadíssimas e trechos onde somente 30 cm de parede separam você do abismo;
– Câmaras reservas: sempre fura algum pneu no caminho;
– Dinheiro no bolso: para compras no meio do caminho, paradas para reabastecimento, reparos emergenciais e coisas do gêneros;
– Capacete e luvas: proteção para eventuais quedas e para o desgaste da mão, que é grande;
– Máquina fotográfica: não dá pra fazer um passeio desses e guardar só na memória.
O Trajeto
Os ciclistas foram divididos em três grupos, de modo que a galera da frente era a mais veloz e a última iria com os retardatários. Mesmo assim, os grupos da frente sempre esperavam em pontos de encontro o resto do pessoal. Dessa forma não havia risco de deixar ninguém para trás.
A primeira parte do trajeto é mais tranquila, a pista de ciclismo da Marginal Pinheiros. Foi lá que aprendi a primeira regra de ouro: pedalar constantemente em marcha e evitar dar trancos em uma pesada. Isso faz suas pernas ganharem agilidade e resposta rápida em uma subida ou trecho sinuoso.
Para quem não conhece, já digo que a primeira metade do trajeto é a mais tensa, onde dividimos subidas íngremes de trechos urbanos com carros e ônibus, além de passar por estrada de terra, que os ciclistas chamam de trilha suja (o último totalmente não recomendado para bikes speed). Se você conseguir suportar tudo isso, vai ser bem recompensado com o melhor da rota: belas paisagens, descidas verticais e o vento batendo forte no rosto.
Assumo que a cada nova subida era uma sensação de vitória, de conquista e fazia aproveitar bem mais as descidas seguintes. O sol era forte e, se não fosse a hidratação e os pontos de parada, certeza que desistira no meio do caminho.
A melhor parte da viagem é, sem dúvida, a Estrada de Manutenção. São quase 20km de trecho, com as descidas que valem realmente a pena fazer. É preciso muito cuidado, pois o trajeto é bem íngreme nessa parte. Mas só o fato passar por baixo dos pilares das rodovias, acompanhar de perto a natureza, poder fotografar cachoeiras e passar pertinho de desfiladeiros, já fazem valer cada gota de suor derramada nas subidas anteriores.
Devido a algumas quebras e pneus furados, nosso horário se estendeu mais do que o normal. Quando apontamos para o trecho final na estrada de Santos, já estava escurecendo. Chegamos à cidade santista por volta das 18h. O cansaço e fome eram grandes, mas a alegria por ter chegado ao final era maior ainda.
Agora veio a parte mais fácil. Reunir a galera no quiosque, mandar vir porções e apreciar uma cervejinha gelada, pois ninguém é de ferro. Enquanto voltávamos de ônibus para São Paulo, o sono tomou conta de todos, mas as lembranças de um dia inesquecível estavam bem frescas e iria demorar muito para apagar.
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