Alguns pensam que bastam mesas de lata, fotos antigas nas paredes e o tradicional torresminho para compor um bom boteco. Outros acreditam que independente da decoração, o que conta são os petiscos clássicos e a cerveja de garrafa gelada. Para descobrir a verdadeira essência desses espaços, resolvemos falar com Eduardo Maya, um dos idealizadores do concurso Comida di Buteco, que acontece simultaneamente em 16 cidades brasileiras de 12 de abril a 12 de maio e escolhe o melhor petisco de cada uma delas.
+ Confira os bares e petiscos do Comida di Buteco 2013 SP
O evento tem 14 anos de existência e Maya visita, pelo menos, mil bares por ano para descobrir outros lugares, eleger os bares participantes, bem como conhecer os donos e o cardápio da casa. Confira a entrevista e descubra, afinal, qual é a cara desses pequenos bares tradicionais, que fazem frente a redes descoladas e sofisticadas?
Como surgiu o interesse nessa cultura de boteco?
Sempre frequentei bar. Tanto que, quando eu morei por seis anos em Londres, jogava futebol por um pub na liga inglesa. Antes do Comida di Buteco, tinha uma escola de gastronomia. Com a criação da competição, resolvi me especializar em cozinha de raiz, para poder falar, cada vez, com mais propriedade. Hoje eu viajo o Brasil inteiro, frequento mais de mil botecos por ano, não só nas cidades do evento.
Como você definiria um boteco?
Boteco é uma extensão da casa da gente. É um estabelecimento onde o(s) proprietário(s) estão à frente de quase todas as etapas do processo. Ele vai às compras, faz os tira-gostos ou elaboram. Importantíssimo quando você chega pelo boteco é ser atendido pelo dono, diferentemente de um bar, onde você tem um gerente, um cozinheiro e aquela coisa toda.
Aquela visão pejorativa do boteco já acabou?
Em algumas cidades ainda existe, mas diminui bastante essa visão. Hoje um cara chega na Vila Madalena (região nobre de São Paulo), gasta 3 milhões de reais com um empreendimento e coloca na frente “Boteco do Carlinhos”. Porque é bacana ser boteco. Boteco hoje remete à raiz, a essa coisa de família, não está ligado a essa coisa de cachaceiro. Em BH é um máximo a pessoa ter um boteco, a zona norte e subúrbio do Rio é muito botequeira. São Paulo inteira é botequeira. Boteco está longe de ser uma palavra pejorativa, pelo contrário, tem muito barzinho querendo se vestir de boteco pra chamar o público.
Quais são as outras características que definem um boteco?
Boteco, na realidade, é uma transferência da cozinha da sua casa que toma às ruas. Ela pode ser em forma de bolinho, de pastel. É o gosto da sua família que toma as ruas. Não você pegar um chefe, montar uma equipe para fazer uma coisa assim.
Qual o grande objetivo do Comida di Buteco?
Valorizar a comida de raiz e ter o boteco como extensão da casa da gente.
Quais são as experiências inusitadas que teve em boteco?
Você acaba frequentando lugares extremamente diferentes. Antes do evento, eu nunca tinha ido a um boteco no Rio Negro. Eles chamam de flutuantes. Você pega uma barca, vai para o boteco e pede para a barca voltar em determinado momento. Ai você está flutuando no boteco no meio do Amazonas. Esse bar, inclusive, participou do Comida di Buteco no ano passado.
No interior de São Paulo, fui a um boteco no meio do canavial. Você anda 20 km no meio do canavial e tem um estabelecimento no meio do nada. Esse é o Zé Goleiro, o dono era goleiro de um time de futebol. Visto por cima, de helicóptero, é um ponto no meio do canavial.
Tem também o Bar Zé do Pombo, em um parque no meio de Fortaleza. Lá tem um cara chamado Zé do Mangue, que tem umas gaiolas com galinhas e pombos. Comi um pombo criado lá muito bom e bem diferente. Agora tem um tira-gosto em Minas que estou atrás há um tempo. É uma cabeça de galinha empanada. Estou pesquisando e quero conhecer esse bar.
Fotos: Divulgação/Keiny Andrade
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