Homem:
Ele chega em casa tarde e estressado do trabalho. Sua empresa navegava pela maré da crise econômica que tinha se alastrado no país. Já tinha passado por uma demissão em massa e, provavelmente, não resistiria a mais um corte que se previa.
Foi com os pensamentos a mil que chegou em casa. Como falar que os planos para comprar um apartamento maior seriam adiados? Ou aquela viagem para o segundo semestre, cancelada? O boa noite seco foi a única coisa que conseguiu sair de sua boca, a expressão daquele dia de cão. Tomou banho, murmurou reclamações durante o jantar e, quando sua mulher foi deitar, preferiu ficar maturando suas ideias, conferiu as notícias do jornal da meia-noite, lia os e-mails e pensava em uma fórmula de sair daquilo tudo.
Deitou-se e queria terminar aquele dia infernal com apenas um orgasmo, sem ter que discutir relação ou coisa do tipo, como acontecera das outras vezes. Frustrou-se mais uma vez naquela tentativa fútil de beijá-la no pescoço, aproximar seu quadril às suas ancas em busca do sexo. Virou para o lado, esboçou mentalmente meia dúzia de reclamações, maldisse o dia em que propôs para morarem juntos e dormiu.
Mulher:
O sexo com seu parceiro foi uma das coisas que a fez se apaixonar por ele. Mas, nos últimos tempos, o ato, quase escasso, é o grande motivo do distanciamento do casal. Ela já chegou a cogitar que ele tenha uma amante ou mesmo que o sentimento que ele nutria por ela, acabara.
Mais uma vez, o diálogo quase não acontece. Aquelas conversas que sempre tiveram depois do trabalho, sumiram. Um seco boa noite foi a única preocupação dele em reparar que ela estava ali, com um novo corte de cabelo e uma roupa especial para a noite. Depois de preparar o jantar e não ouvir um único agradecimento, teve que contentar-se na mesa em vê-lo murmurar preocupações do trabalho, da falta de dinheiro e da crise financeira. Falar de tudo, menos com ela…
Ela não desistiu. Colocou aquele perfume e a lingerie que ele tanto gosta. Chegou a convidá-lo para dormir junto, mas não obteve resposta. Triste, deitou-se no seu canto da cama, maldizendo o dia em que se apaixonou por este insensível. Bem que suas amigas diziam que ele era igual a todos os outros. No fim, ele ainda teve a cara de pau de encoxá-la na cama, querendo que ela estivesse ‘disponível’ para o sexo. Fingiu-se sonhando, proferira quatro xingamentos em pensamento e dormiu arrasada.
O que você viu acima são duas perspectivas diferentes de uma noite em que o sexo foi usado como moeda de troca. As duas, como você percebe, acabaram frustradas.
A cultura masculina cria o homem para não expressar o que sente, obrigá-lo a resolver os problemas sozinhos e não demonstrar suas fraquezas. Isto resulta em caras cada vez mais fechados, com tendências a depressão e que canalizam seus problemas em coisas que possam extravasar ou fazê-lo não pensar, nem que seja momentaneamente, em seus dilemas: pornografia, bebidas, drogas ou sexo.
O sexo com a parceira funciona da mesma forma. Ao invés de construir um ambiente favorável a relação, ele esquece das preliminares e foca somente no ato em si. O resultado disso você já percebe. O cara pede sexo quando o que mais precisa é de um abraço, um papo sincero e alguém que o entenda. Quando não consegue, frustra-se mais ainda.
Boa parte das mulheres, por sua vez, vê o sexo como troféu, como um prêmio merecido só depois de bom comportamento. Pensam que cabe a elas controlarem os limites do prazer e só podem oferecê-los em doses homeopáticas e em ocasiões especiais.
Ao invés de tentar compreender os problemas pelos quais o homem está se distanciando no relacionamento, vê nas consequências os motivos mais que suficientes para sentenciá-lo e afastar-se cada vez mais dele. Sua cabeça aponta para mil conspirações e justificativas, entre elas a traição, a falta de amor ou a rotina. Ela, porém, esquece de fazer o mais simples, incentivar o diálogo e enxergar os problemas pelos quais ele passa.
Antes que acabem com um relacionamento e deixem partir uma parceira(o) que faz você feliz, eu peço: homens, deixem de esconder suas fragilidades e abram mais o jogo. Não tenham medo de ‘jogar a real’ e fazer a sua companheira participar mais da sua vida, sejam nos momentos bons ou ruins.
Já para vocês, mulheres, dê mais abertura ao diálogo, ao invés de querer só falar sobre o que aconteceu de novo em sua vida. Tente enxergar no silêncio um espaço para reflexão e aprendizado. Aprenda a conviver com o não e com o pensamento divergente.
E para ambos, não use o sexo somente como moeda de troca, seja ele para um bônus por bom comportamento ou para aliviar o estresse de um dia infernal. Tanto uma como na outra fórmula, ao invés de unir, será responsável pela separação de vocês.
E fiquem com esta reflexão. Superestimamos o sexo. Ao contrário do que proclamam, ele não é o motor do mundo, o que move o mundo é o amor. O sexo pode ser uma bela e divertida forma de expressar este sentimento. Isto é, quando feito com a pessoa, no momento e pela razão certa.
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