O sexo sempre fez parte da cultura de povos diferentes em todos os lugares do mundo. Como o ser humano pensa nisso praticamente o tempo todo, é claro que qualquer evolução tecnológica ou artística vai virar ferramenta para contar alguma história envolvendo sexo.
Com o cinema não poderia ser diferente. Filmes que buscam realismo e procuram transmitir uma mensagem ainda mais palpável utilizam o sexo para proporcionar interesse e uma sensação de proximidade ao público.
Desde 1899 – apenas quatro anos depois dos irmãos Lumière terem bancado a primeira sessão cinematográfica da história – cenas de strip-tease e nudez feminina ilustram filmes e fazem a cabeça do público.
É claro, muitos diretores utilizam essa estratégia para atrair audiência e causar polêmica mas, mesmo assim, o sexo em cena é visto como arte por muitos cineastas. O público, por sua vez, pode até identificar a proposta do diretor, mas é inegável que a curiosidade pelas cenas de sexo seja o principal fator de uma grande bilheteria para um filme polêmico.
Nós já fizemos uma lista repleta de filmes com cenas reais de sexo. Hoje, vamos sanar ainda mais essa curiosidade e explicar como algumas das cenas mais famosas desses filmes foram realmente feitas.
Ninfomaníaca: Volume I (2014)
É praticamente impossível falar de cenas de sexo no cinema sem falar de Lars Von Trier. Desde 1998 com Os Idiotas, ele busca trabalhar o sexo da forma mais realista possível dentro das limitações dos atores e também da proposta da narrativa.
Em Ninfomaníaca, ele extrapola todo esse realismo em cenas em que realmente nos questionamos se os atores estão transando de verdade.
Em uma das cenas mais explícitas do filme, em que vemos Shia LaBeaouf penetrando Stacy Martin e realmente enxergamos o seu pênis fazendo o que pênis fazem durante o sexo – em uma atuação digna de filme pornô, não conseguimos entender como aquilo foi filmado sem que os dois atores realmente estivessem transando.
O produtor Christine Vesth explica a mágica: “Nós filmamos os atores fingindo que estavam transando e também colocamos os dublês na mesma posição para transarem exatamente no mesmo lugar. Depois, foi só sobrepor digitalmente as duas imagens. Na parte superior da cintura, quem estava atuando era Shia e Stacy. Da cintura para baixo, eram os dublês”.
A união entre computação gráfica e atuação, neste cenário, funcionou muito bem e a cena ficou extremamente realista.
Stacy Martin relatou como foi o processo: “Eu e Shia vimos os dublês, que realmente são atores pornôs, transando, e, depois, ficamos exatamente na mesma posição e fizemos exatamente os mesmos movimentos, mas com calças”.
Se você está se perguntando se a cena em que Stacy Martin faz sexo oral em um desconhecido em um trem é real, a resposta é não: eles utilizaram uma prótese falsa para contracenar com Stacy.
Azul é a cor mais quente (2013)
Um dos filmes visualmente mais bonitos lançados nos últimos anos também faz parte de uma polêmica gigantesca envolvendo o conteúdo da história. Afinal, ele relata o relacionamento de um casal de lésbicas e possui várias cenas de sexo explícito extremamente longas e duradouras para o público convencional.
O filme é baseado em uma história em quadrinho de Julie Maroh e conta a história de Adèle, uma jovem francesa de 15 anos que se apaixona por uma garota um pouco mais velha. No filme, as idades foram brevemente alteradas, mas o conteúdo explicito, não.
As cenas são sensuais, bonitas e envolventes. Nada agressivo como costumamos ver em filmes pornôs, afinal, o sexo de Azul é a Cor mais Quente parece realmente emocional e verdadeiro.
O clímax visual do filme é uma cena de sexo com mais de 7 minutos de duração. Tudo foi real, mas, no lugar da vagina das meninas foram sobrepostas vaginas falsas – entretanto extremamente realistas – e elas contracenaram com os moldes.
Léa Seydoux contou que foi bem estranho e cansativo gravar a cena: “Foi muito esquisito ter uma vagina falsa em cima da verdadeira. Nós ainda levamos dez dias para gravar apenas aquela cena de 7 minutos”.
Adèle Exarchopoulos, sua companheira no filme, completou: “Foi difícil porque além de ficar nua, eu precisei fazer todas aquelas posições sexuais diferentes sem ter experiência com sexo lésbico”.
Irreversível (2002)
Um dos filmes mais perturbadores já lançados também tem uma das piores cenas de sexo da história do cinema, afinal, nela, Monica Bellucci é estuprada e espancada por um maníaco.
A narrativa inversa é um dos fatores mais cruéis do filme pois, ao fim da narrativa, o público experimenta um sentimento de total desesperança sobre a história do casal principal do filme.
A cena mais polêmica do filme parece ter sido filmada inteiramente de uma só vez.
A câmera, parada, nos transforma em testemunhas e nos faz sentir totalmente incapazes por não reagirmos e apenas observamos a crueldade do estupro.
Para alívio do público, a cena não é real e Mônica Bellucci explica como tudo foi filmado: “Gaspar Noé – o diretor – filmou a cena com um realismo absurdo, mas nós estamos apenas atuando. Sabe o vestido bonito que eu usei? Nós tivemos 10 versões dele porque todos eram destruídos durante a cena. Eu cheguei a pedir um modelo de presente mas, depois da cena pronta, eu não conseguia sequer olhar para ele”.
O realismo da cena foi intensificado com o uso da computação gráfica: “O sangue e os machucados no rosto de Mônica Bellucci foram incluídos depois, assim como o pênis do estuprador que aparece ao final do ato”.
Gaspar Noé ainda complementa a história: “Nós deixamos o zíper fechado enquanto estávamos filmando porque senão seria demais para Mônica, mas eu alterei a cena na pós produção para deixar o filme mais real”.
A Última Ceia (2001)
Dirigido por Marc Forster, A Última Ceia foi o filme que rendeu o Oscar de melhor atriz para Halle Berry.
Provavelmente, a cena de sexo entre a personagem de Berry – uma mãe solteira cujo marido foi executado no corredor da morte – e Hank, personagem de Billy Bob Thornton, um oficial racista que levou o marido da personagem Letícia para a cadeira elétrica, tenha influenciado a decisão da academia em dar o prêmio para Halle Berry.
Apesar de ser uma cena extremamente intensa, Halle Berry lembra dela com humor: “Foi tudo atuação, é claro. Nós gravamos a cena entre os 19a e 21a dia de gravação, então, eu sempre digo que fiquei com Billy Bob por três semanas antes de transarmos. A cena, entretanto, me assustou muito, mas a coragem surge de maneiras estranhas”.
Para que tudo ficasse mais natural, a cena foi gravada sem que o diretor falasse qual ângulo usaria ou qual corte ele faria para obter o resultado final. Depois da cena pronta, Marc Foster a cortou do jeito que achou melhor.
Halle Berry ganhou o Oscar de melhor atriz, mas Billy Bob Thornton acredita que o realismo da cena de sexo tenha contribuído para sua separação, afinal, até aquele momento ele era namorado de Angelina Jolie.
Inverno de Sangue em Veneza (1973)
A produção anglo-italiana de 1973, dirigida por Nicolas Roeg, é um filme de suspense extremamente realista e perturbador. O foco da trama é o luto e os efeitos que a morte de um parente pode causar na família que o perdeu.
Depois da morte acidental de sua filha, John, interpretado por Donald Sutherland, e Laura, vivida por Julie Christie, resolvem viajar para Veneza, na Itália – algo bem parecido com o que aconteceu, anos depois, no filme Anticristo, de Lars Von Trier.
Quando Laura está saindo de um restaurante, uma médium a aborda dizendo que sua filha morta quer entrar em contato. Laura, é claro, desmaia e, depois, quando acorda, transa intensamente com seu marido John. Por anos, muita gente acreditou que a cena fosse real.
O jornalista norte-americano Peter Bart garante que visitou o set no dia que a cena de sexo foi filmada e jura ter visto o casal realmente transando. Entretanto, o ator Donald Sutherland nega essa afirmação: “Isso não é verdade. Nós não transamos e Peter Bart também não esteve lá. A porta estava trancada pelo lado de dentro, aliás. O que o jornalista disse é mentira”.
Bem, não importa muito se os atores realmente transaram ou se dublês foram utilizados na gravação. Para o cinema, o fundamental é a imersão na história. A arte é uma forma de incomodar e fazer o público refletir.
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