Sou muito fã de James Bond. Daquele tipo que passou semanas acordado de madrugada assistindo as reprises dos filmes e que possui coleções de VHS e DVDs com todos os longas da série.
E, desde o lançamento de “007 contra Spectre” – provavelmente o último filme de Daniel Craig na franquia – começou a nova caçada pelo novo ator para fazer o papel. Essa passagem de manto – ou smoking – sempre foi uma das partes mais divertidas para mim.
Lembro de com 8 anos de idade meu pai me levar ao cinema para ver “GoldenEye” só para conhecer o novo 007. Entre “Um novo dia para morrer” e “Cassino Royale”, pude acompanhar na internet as especulações para quem assumiria o posto.
Novamente, voltamos a busca pelo novo agente secreto com a licença para matar, só que dessa vez, um questionamento tem tomado corpo: E se o próximo James Bond for negro?
O que faz de um James Bond um James Bond?
Se você der uma olhada nos fãs da franquia, vai ver que muitos deles elogiam a passagem de Sean Connery na saga. O que é muito louco, já que Ian Flemming, escritor e criador do personagem, odiou o casting do ator. Mas, o que faz um James Bond ser um James Bond?
De cabeça: Um personagem sedutor, carismático e elegante, que sirva não só de sonho de consumo para as mulheres, como também de inspiração para os homens. E ele tem que ter sotaque britânico.
“Ah, mas as características físicas também importam para o papel.”
Nem tanto, meu amigo. O personagem sempre teve cabelos morenos em todos os livros e filmes, até que Daniel Craig, um loiro, assumiu o papel. Sem grades polêmicas.
Nas telas, ele sempre foi um personagem na faixa dos 30 a 35 anos, mas Roger Moore tinha 57 anos e Sean Connery 53 em seu últimos filmes como personagem.
Além disso, o 007 sempre foi um cara mais esguio e que solucionava seus problemas com classe e não com força bruta. Tudo que o mais recente não faz em seus filmes.
Craig tem um porte mais parrudo, derruba paredes, mata inimigos na porrada e se joga de maneira suicida dentro de helicópteros. Inclusive, “Skyfall” é o filme do 007 com a maior arrecadação de bilheteria da história.
“Ah, mas nada a ver dar um personagem de uma cor para a outra.”
Ah, é? Bem, preciso te contar que isso acontece desde sempre no cinema. John Wayne fez Genghis Khan, Mickey Rooney interpretou um japonês em “Bonequinha de Luxo”, Orson Welles, Laurence Olivier e Anthony Hopkins já pintaram o rosto de preto para fazerem o papel de “Otelo”, Jake Gyllenhall foi o “Príncipe da Persia” e o novo “Deuses do Egito” traz Gerard Butler e uma porrada de atores brancos interpretando egípcios.
Trocar a cor ou nacionalidade de um personagem é o que Holywood sempre fez, mas parece que um negro no papel de branco ofende muito mais do que o contrário.
Afinal, será que um ator como Idris Elba ou – os mais cotados até o momento – poderiam fazer um papel de um personagem mais classudo? Pela capacidade de atuação, tenho certeza que sim. E essa não é primeira polêmica do tipo na série.
Uma discussão parecida aconteceu na década de 70 quando o agente secreto teve sua primeira bond-girl negra em “Diamantes são eternos”. Os mais reacionários achavam um absurdo 0 007 se envolver um relacionamento interracial.
O que pensam os atores
No meio da polêmica se James Bond poderia ser negro, alguns atores que já interpretaram o personagem se pronunciaram.
Daniel Craig, o mais recente, diz apenas que o “quem for escolhido deve apenas fazer seu trabalho e eu estou pouco me fudendo para a cor da pele dele”. Sério. Desse jeito mesmo. Já Pierce Brosnan, acredita que não exista motivos para um negro não poder interpretar o papel.
Já Roger Moore, disse em entrevista para a revista Paris Match, que acredita que o herói só poderia ser interpretado por alguém que fosse “Inglês-Inglês”, como se quase não houvesse população negra no país.
Quando morei na Inglaterra, morei com a família White, que curiosamente era negra, em um bairro chamado Blackheath, que possui uma grande comunidade de negros. Pelas ruas de Londres, pude ver não só brancos, como negros, asiáticos e indianos. Logo, não sei que é o “inglês-inglês” ao qual Moore se refere.
O James Bond não era um personagem cômico até Roger Moore assumir o smoking. Também não era um assassino sangue frio até Timothy Dalton e também não era loiro até Daniel Craig. Então, sabe o que muda se o próximo James Bond for negro? Nada.
Mudar é a essência do James Bond. O 007 não é uma pessoa, ele é um conceito que se renova a cada geração. Ele continuaria sendo um agente secreto a serviço de sua Majestade empunhando sua Walther PPK e dirigindo um Aston Martin.
Aliás, só teríamos a ganhar com um grande personagem do cinema sendo interpretado por um ator negro.
O personagem continuaria sendo um retrato de seu tempo e que se renova a cada ator que assume o papel. Agora, e se próximo James Bond for gay ou uma mulher? Bem…
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