Um Breve História das Cuecas

Carlos Castelo analisa a evolução da roupa íntima masculina com o passar dos anos

Carlos Castelo analisa a evolução da roupa íntima masculina

As cuecas são o Golbery do Couto e Silva (*) das vestimentas: uma eminência parda. Mas sem sua presença, com toda certeza, nenhum homem poderia declarar-se pleno.

O sentimento é ancestral. O primeiro registro de algo cobrindo nossas vergonhas data de 3.300 a.C. Foi encontrado nos Alpes protegendo o baixo ventre do polêmico homem de gelo, Ötzi.

Ao que tudo indica, o calçãozinho de couro trajado por ele ainda era literalmente uma “obra aberta”, visto que foi encontrado esperma em seus fundilhos pré-históricos. Mesmo com esse início atabalhoado, o destino da “roupa de baixo” seria notável.

O Antigo Egito foi quem deu a primeira resposta efetiva criando para o rei Tut um longo pedaço de linho moldado como um triângulo isósceles e cordas que o sustentavam.

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Flanar pelo deserto com um pedaço de pano duro encordoado no meio das reentrâncias explica muito as artes plásticas do período. Aqueles nobres e sacerdotes, de perfil, com uma expressão constrangida, próxima da dor. Foi mais um percalço, mas a “underwear” masculina chegaria inalterada aos muros da Galileia.

Ninguém menos que o Rei dos Reis, numa das muitas versões retratadas de sua crucificação, usava uma variação das tais cuecas egípcias.

Infelizmente, os Cruzados melaram um pouco a coisa. Encomendaram pinturas do Homem de Nazaré trajando uma sunga na forma de bandeira, semelhante à sua heráldica. O que, cá entre nós, seria o equivalente ao mau gosto de retratar, nos dias de hoje, o Filho do Homem usando uma zorba na cruz.

De todo modo, a evolução das ceroulas seguiria célere por séculos. Até chegarmos à Grécia Antiga. Ali, a roupa de baixo nunca esteve tão por baixo.

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Tudo culpa dos Jogos Olímpicos. Os vaidosos atletas helenos competiam em lutas na lama, completamente pelados. A prática tinha a ver com os ritos de entrada na masculinidade dos jovens efebos.

Porém, uma tese ainda mais ancestral garante que tudo ocorreu porque um corredor perdeu sua sunga durante um “sprint” mais vigoroso numa Maratona. Aí os outros, nesse instante, resolveram fazer o mesmo, passando a correr nus.

Aristóteles e Sófocles devem ter amado tanto essa versão da corrida que seus textos enaltecendo o novo modismo influenciaram os machos gregos, que começaram a criar o Tifão solto.

O curioso é que, mesmo em tempos bem mais contemporâneos, pudemos assistir um paralelismo com esse movimento trunkless heleno.

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A Escócia do kilt é o mais representativo deles. Para ser um verdadeiro escocês, diz a lenda, é preciso não envergar nada por debaixo do saiote xadrez. Agora, diante de tudo isso, o que esperar do futuro da roupa íntima masculina?

Hoje, com adolescentes usando suas lingeries da Calvin Klein bem abaixo do baixo-rego, nos perguntamos, atônitos: estariam as cuecas virando t-shirts e saindo da categoria under para a overwear?

Nem Glorinha Kalil, em seus momentos mais inspirados, saberia responder a tão intrincada questão. A certeza que nos une é ainda a de que, sem cuecas, não há solução. Nem para mim, nem para você, nem para o Ötzi.

Texto por Carlos Castelo. Escreve, desde sempre, para qualquer meio conhecido: jornais, revistas, sites, cinema, TV, propaganda etc. É um dos criadores do grupo de humor musical Língua de Trapo. Também é autor de nove livros que vão de crônicas a aforismos, passando por um romance policial e um infanto juvenil.

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(*) Golbery do Couto e Silva1 (Rio Grande, 21 de agosto de 1911 — São Paulo, 18 de setembro de 1987) foi um militar e geopolítico brasileiro. Tornou-se reconhecido como um dos principais teóricos da doutrina de segurança nacional, elaborada nos anos 50 pelos militares brasileiros da Escola Superior de Guerra (ESG), sendo um dos criadores do Serviço Nacional de Informações (SNI).

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Lucas Balzer
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