Nós nunca mentimos tanto – e a culpa é da internet

No fim das contas, House estava certo: todos mentem.

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Dados mostram que, nos últimos anos, as pessoas passaram a mentir cada vez mais. Mas o que causa esse tipo de comportamento e quais são suas consequências?

Quem nunca contou uma mentira inofensiva, ou preferiu ocultar alguma informação para não prejudicar determinado relacionamento ou conseguir aquele emprego? Contar mentiras é um comportamento observado na sociedade há muitos séculos, sempre presente quando o ser humano se une em grupos ou se relaciona com outra pessoa.

As pessoas também mentem para si mesmas, mas isso é outra história! A principal questão observada nos últimos anos é que o ser humano está mentindo cada vez mais. Na última década, por exemplo, as pessoas passaram a mentir de três a cinco vezes mais do que nas décadas anteriores.

Uma experiência realizada pela Universidade de Massachusetts apontou que, quando duas pessoas se conhecem, cada uma delas conta em média três mentiras apenas nos dez primeiros minutos de conversa. O problema segue conforme o relacionamento progride e, por isso, muitas pessoas mentem durante o casamento ou relacionamento de amizade.

Uma das principais causas possíveis, segundo sociólogos e pesquisadores, para o aumento na quantidade de mentiras contadas por aí é sua fácil aceitação pela sociedade como algo “necessário” ou natural ao comportamento humano.

Comportamento inofensivo e influência digital

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O meio utilizado para traçar uma conversa parece interferir na quantidade de mentiras contadas em um diálogo.

Por exemplo, os psicólogos Robert Feldman e Mattityanhu Zimbler, da Universidade de Massachusetts, descobriram que as pessoas mentem três vezes mais, em média, através de mensagens de texto do que em conversas frente a frente; por e-mail, elas mentem cinco vezes mais.

O estudo analisou 110 pares de estudantes desconhecidos, e cada dupla conversou entre si por cerca de 15 minutos através de e-mails, mensagens no celular e ao vivo. Depois, os cientistas revisaram as conversas e entrevistaram cada voluntário outra vez em busca de encontrar as inverdades: “Quando você está online, fica menos contido. Os seus sinais faciais e comportamentos verbais não podem te delatar – e por isso é mais fácil mentir”, explicou Feldman.

A distância física também é um dos fatores responsáveis pela facilidade em contar uma mentira. Para Sherry Turkle, professora de estudos sociais do MIT e especialista em relações entre comportamento e tecnologia, o aumento no uso de smartphones e, consequentemente, das conversas por mensagens de texto, é responsável, sim, pelo aumento na quantidade de mentiras contadas.

Mas o Whatsapp não é o único a ser responsabilizado. Na verdade, mentimos muito menos em ferramentas de conversa instantânea do que em meios assíncronos. Como as pessoas enviam mensagens em momentos diferentes, publicam posts e escrevem e-mails em situações variadas, há um distanciamento ainda maior da realidade: “Nós apresentamos uma imagem editada do que somos, que podemos apagar ou retocar o tempo todo”, ressalta Turkle.

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Segundo um novo estudo britânico, mais de 2/3 das nossas imagens publicadas em nossas redes sociais querem transmitir uma mensagem de felicidade, aventura e diversão que não estão acontecendo na vida real.

Alias, 75% dos britânicos admitiram julgar seus pares baseado em suas postagens no Facebook, Instagram e Snapchat.

O estudo, realizado pela empresa que criou o SmartPhone HTC, analisou mais de 4.004 pessoas entre 14 e 54 anos em toda a região do Reino Unido, Espanha, França e Itália.

De 1.000 voluntários britânicos, 52% disse que postaram fotos de seus itens pessoais “Para fazer um pouco de inveja em sua família, amigos e conhecidos”. O psicólogo comportamental Jo Hemmings explicou: “Com o compartilhamento instantâneo de imagens, nós, agora, queremos saber o que nossos amigos estão vestindo, o que as celebridades estão comprando quase em tempo real”.

A crítica segue: “Estamos vivendo em um mundo de comunicação urgente, a moda, antes presente apenas em revistas, agora nasce e é valorizada por meio de pessoas reais utilizando suas roupas favoritas. Isso também acontece com recomendações de filmes, lugares para visitar e opiniões políticas”.

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A tecnologia parece ser mesmo uma aliada da mentira. Um estudo realizado pela Universidade de Columbia analisou 100 boatos e informações falsas que eram espalhadas pela rede entre agosto e dezembro de 2014 – além de 1.500 reportagens, publicações antigas e artigos escritos a respeito delas.

Com isso, os pesquisadores descobriram que mentiras falsas tendem a se espalhar mais rápido e com mais intensidade que as verdadeiras e, além disso, recebem mais cliques que as outras notícias que desmentem as anteriores.

O aspecto sensacionalista e alarmista das notícias falsas é um dos principais responsáveis por isso.

Parece que as redes sociais, apesar de serem importantes em vários outros aspectos – como mudanças políticas, comportamentais e sociais – também possuem um lado negativo problemático e perigoso.

No fim das contas, House estava certo: todos mentem.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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