Por que tantos artistas então tirando a própria vida? Precisamos falar sobre depressão masculina

O rapper norte-americano Freddy E foi um dos últimos músicos a cometer suicídio este ano. O que pode explicar a onda de depressão que domina artistas no mundo todo?

Por que tantos artistas então tirando a própria vida? Precisamos falar sobre depressão masculina

O rapper norte-americano Freddy E, de 22 anos, foi encontrado morto no dia 5 de junho de 2018, e as autoridades locais afirmam que ele cometeu suicídio depois de publicar uma série de mensagens de despedida pelo Twitter. Ou seja: mais uma vítima da depressão masculina.

Segundo a CBS News, Frederick Eugene Buhl, nome de batismo do cantor, teria tomado a atitude de por um fim em sua vida por um término turbulento do seu relacionamento com a rapper Honey Cocaine.

Entre as mensagens publicadas no Twitter, Freddy disse amar sua mãe e pai, pediu perdão para Deus e afirmou que “sentia muito”.


Veja o vídeo com os sintomas, causas e tratamentos da Depressão

Além dele, Avicii, um DJ sueco conhecido pelas músicas “Wake Me Up” e “Levels”, também tirou a própria vida este ano, cometendo suicídio em abril. O ator Carlos Lopez Jr, conhecido por “Tartarugas Ninjas”, “Capitão América 2” e pela série “Operação Resgate”, também foi uma vítima: ele morreu aos 35 anos com um tiro na cabeça.

Esses são apenas alguns dos artistas que foram levados pelo suicídio em 2018. Então, por que tantos artistas então tirando a própria vida? Bom já é hora de falar sobre depressão masculina.

Depressão masculina: o mal silencioso

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A depressão cresce no mundo, segundo OMS. A doença afeta 4,4% da população mundial e 5,8% dos brasileiros, segundo dados divulgados pela Organização Mundial da Saúde, e o Brasil é o país com maior prevalência de ansiedade no mundo: 9,3%.

Neste cenário, a estimativa é que cerca de 6 milhões de homens americanos lidem com depressão em um ano típico. Porém, os especialistas afirmam que muitos homens podem nem sequer reconhecer ou admitir que sofrem da doença, seja por medo de julgamentos ou por acreditare que os sintomas estejam relacionados a outras doenças ou simplesmente estresse. Ou seja: a depressão masculina é uma questão a ser discutida.

Melancolia ou tristeza excessiva são marcas registradas da depressão e podem ser prevalentes entre os homens. O sexo masculino também tem maior propensão a sentir aumento na frustração, raiva e irritabilidade.

Várias pesquisa indicam os homens não gostam de procurar ajuda profissional e relutam em falar sobre depressão masculina. Eles também tendem a minimizar seus sintomas. Muitas vezes, isso acontece por causa do medo de passar vergonha. O estigma da saúde mental muitas vezes impede que as pessoas recebam tratamento, e, por isso, a depressão masculina fica em segundo plano.

Há um preconceito na comunidade médica

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Além disso, as evidências científicas indicam que há um viés de gênero quando se trata de problemas de saúde mental. Os médicos são mais propensos a diagnosticar depressão entre mulheres do que entre homens, mesmo quando eles apresentam os mesmos sintomas ou têm avaliação igual à das mulheres em medições padronizadas.

Porém, quando não tratados, problemas de saúde mental como a depressão podem levar ao suicídio. Por isso, a depressão masculina é um problema silencioso.

Um relatório de 2015 apnta que os homens são mais propensos a ficar em silêncio quando pensam em se machucar ou se matar. Homens de meia-idade também têm apresentado o maior crescimento nas taxas de suicídio na última década.

Em resumo: falar sobre seus sentimentos pode te salvar, e discutir a depressão masculina é fundamental para mudar o cenário triste que vivemos.

“Os homens têm mais dificuldade em reconhecer, descrever ou admitir [doenças mentais] do que as mulheres”, disse John Greden, diretor-executivo do Centro de Depressão da Universidade de Michigan, em ao The Huffington Post. “Os homens precisam reconhecer que isso não é algo que vai se curar de uma hora para a outra e que certamente não é sinal de fraqueza.”

Artistas são mais melancólicos

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Onde há depressão, muitas vezes a arte parece estar. Poe, Pollock, Michelangelo, Hemingway, Keats, Gauguin, Dickens e Blake são apenas alguns artistas criativos famosos que são conhecidos por terem sofrido terríveis surtos de depressão.

Mas como exatamente a depressão e a arte se inter-relacionam? Os episódios depressivos de alguma forma ajudam no processo criativo, ou há algo em ser um artista em qualquer campo criativo que predisponha alguém a desenvolver depressão? Psicólogos e psiquiatras estudaram e ponderaram essa questão por décadas, e a maioria concluiu que a depressão desempenha um papel na produção criativa.

Porque as pessoas criativas tendem a ser altamente conscientes, reflexivas e conscientes, parece que elas estão inclinadas a gastar muito mais tempo pensando sobre seus fracassos, medos, inseguranças e decepções do que a maioria das pessoas.

Como idealistas com imaginação expansiva, eles podem facilmente imaginar vidas vividas de maneira diferente, com níveis muito mais altos de realização e satisfação.

Além disso, se os artistas têm uma forte consciência social, como muitas pessoas criativas, eles podem gastar muito tempo imaginando possíveis soluções para os problemas sociais, políticos e econômicos do mundo. Infelizmente, suas soluções sonhadas nem sempre são práticas ou viáveis.

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Em suma, as pessoas criativas podem se tornar cronicamente frustradas porque seu idealismo e suas naturezas reflexivas impossibilitam que elas aceitem seus próprios fracassos ou os da sociedade. Outros sem essa inclinação criativa podem ficar tristes no momento.

Mas eles estarão muito menos propensos a se amarrar em nós imaginando e re-imaginando histórias alternativas que poderiam ter acontecido, mas que não aconteceram, ou deveriam acontecer, mas nunca acontecerão.

A depressão pode ser uma condição debilitante, mas muitas vezes é um sinal de alerta e um pedido de ajuda. Em outras palavras, exige ação, e aqueles com grande habilidade artística recorrem naturalmente à sua arte para expressar o que estão sentindo.

Sua depressão pode não ser a causa de sua arte, mas pode ser uma motivação para isso, ou um mecanismo de enfrentamento para ela.

Isso ajuda a explicar por que tantas pessoas criativas sobrecarregadas com a depressão conseguiram manter uma produção tão impressionante de trabalhos criativos.

Porém, apesar da arte ser uma válvula de escape, ela raramente é um tratamento – e, infelizmente, alguns artistas podem ter percebido isso tarde demais.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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