O garoto morto e a homofobia nossa de cada dia

Errado não é ser homossexual. Errado é espancar um colega de classe por preconceito.

O garoto morto e a homofobia nossa de cada dia

Sempre que vamos falar de homofobia, machismo ou preconceito, aparece uma galera que reclama do politicamente correto. Que o mundo anda um saco e que nos anos 80, todo mundo fazia piada com mulher, preto e viado e ninguém se importava.

Afinal, onde está o problema de tirar um barato chamando os amigos de viado?  Bem, um garoto morreu após ser espancado porque era filho de um casal de homossexuais. Um garoto que estava abandonado na vida, morreu simplesmente porque dois caras deram a chance dele ser amado e ter uma vida melhor.

Essa agressão por parte dos amigos é apenas uma extensão do que fazemos todos os dias. De todas as piadas que fazemos com o viadinho da firma ou por todas as vezes que respondemos um comentário de um amigo com “ah, mas isso é coisa de viado”.

Essa foi a forma que jovens em fase de formação reproduziram esse comportamento: Espancando um colega de classe.

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Criança é criança. Aceita as coisas como são. Os adultos é que estragam tudo.

Nós cobramos que os pequenos não chorem, falem grosso, não brinquem de boneca, que só beijem as menininhas… Qualquer transgressão a uma dessas regras é retribuída com uma bronca ou até mesmo uma surra. E os pequenos apenas repetem este processo nos corredores do colégio.

Eu mesmo não estou imune a isso. Eu mesmo já fiz isso diversas vezes. Lembro das brincadeiras que fazíamos com os meninos mais afeminados na escola. Para a gente era uma brincadeira simples e inocente. “Ora, se ele agisse como homem ninguém pegaria no pé dele, certo?”

Hoje, parte da sociedade deixa que a orientação sexual seja mais importante do que o caráter da pessoa em si. Desde quando ser hétero ou homossexual define o caráter de alguém? Define se pessoa x ou y merece tomar uma surra?

Pior, neste exato momento um casal que apenas amava seu filho está em luto só porque um bando de garotos criados como macho alfa julgou que era errado os pais do colega não serem como “”””os de todo mundo”””.

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No meio do turbilhão de textões sobre o ocorrido, o que mais me impressionou foram os comentários a respeito. São diversas as desculpas para tentar justificar o injustificável.

Cheguei até mesmo a ver um cara que defende que se garoto tivesse passado a vida inteira abandonado no orfanato, estaria vivo, logo a culpa é dos pais que o adotaram. É uma inversão de lógica incrível para poder justificar um preconceito que mata pessoas até hoje.

Ao meu ver, existem dois culpados, os jovens que cometeram a agressão e os pais que não educaram os mesmos para evitar tal ato de barbaridade. Não estou falando nem de aceitar homossexualidade. Estou falando de que nenhum humano que agride o outro de forma gratuita assim pode estar com a razão.

Antes mesmos de serem acusados de homofobia, esses garotos devem ser acusados por usar a violência como uma forma trivial de lidar com o mundo. Brincadeira de criança com consequências muito piores que um joelho ralado.

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Esse ato que mostra o nível de intolerância e ignorância de nossa sociedade. Onde jovens de 15 anos, que mal conheceram a vida e o mundo, se acham no direito de reduzir um colega de classe por conta da orientação sexual de seus pais.

Um calaboca para quem ainda gosta de dizer que homofobia e preconceito não existem. Antes de defender o politicamente incorreto e o seu direto de falar merda, que tal defendermos qualidades mais básicas? Como o direto a vida e uma pessoa fazer a escolha que quiser, sem ter medo de ser espancado por isso na rua.

Por que antes de ensinar seu filho que ser gay é errado, não ensinamos coisas mais simples como errado é usar a violência para resolver uma situação? Ou que errado é roubar, errado é ser corrupto ou errado é matar.

Com certeza, seria um mundo melhor se, antes de nos preocuparmos se nossos filhos vão ser gays ou não, nos preocupássemos com o caráter deles e a forma como eles lidam com o mundo.

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Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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