Não conseguiria por no papel quantos rolês divertidos da minha vida tiveram como coadjuvante a cerveja: shows, viagens, festas de faculdade, jogos de futebol… Parece que onde está a bebida, posso contar com o mínimo de diversão. Com o tempo, quis conhecer mais tipos de cerveja, de países e gostos diferentes. A parceria e paixão pela bebida só aumentou.
Mas nos últimos tempos, um grupo em especial tem feito de tudo para tornar a cerveja na coisa mais chata do mundo. São “beer chatos” o grupo de especialistas” em cerveja mais chatos que você pode encontrar por ai.
Saem as risadas e histórias para contar e entram as conversas mais chatas e intermináveis do mundo sobre o aroma, sabor e amargor de cada bebida. Em alguns círculos, não importa mais se você gosta ou não da cerveja que está bebendo, mas sim se você sabe de cor o IBU, Carbonatação e o tipo de lúpulo da bebida.
Não que entender um pouco mais do que bebemos não faça parte do processo. O papel do crítico e dos especialistas são essenciais ao mercado (recomendo este texto publicado no Bom de Copo sobre a importância dos mesmos). Porém, em alguns casos, sobra conhecimento e falta bom senso.
De jornalistas e blogueiros, até distribuidores e consumidores. Ao invés de usarem o conhecimento para difundir a palavra, alguns especialistas o usam para se colocarem a cima dos outros mortais que bebem apenas “aquela pielsen feita de milho”.
Mal sabem eles que, ao levantar barreiras de termos técnicos chatos, fecham as portas do mercado de cervejas especiais para o público leigo. Justo aqueles que eles mais deveriam estar preocupados em conquistar.
“Por que eu deveria largar a minha Skol que eu pago barato para comprar uma cerveja mais cara e que só gente chata e sabichona bebe?” Apesar de ter crescido muito nos últimos anos, o mercado de cervejas no Brasil ainda tem muito para crescer, principalmente fora das regiões sul e sudeste.
A cerveja no Brasil pode sim ser algo além de uma bebida para chapar. Este foi o segredo do crescimento da cerveja artesanal no mercado: oferecer algo mais. Mas não é com o discurso radical de alguns “beer chatos” que vamos ver o mercado progredir.
É mais ou menos como um professor de escola. Quantos professores você já teve que fizeram a mais chata das matérias como física e matemática se tornarem legal pela forma com as quais eles abordavam o assunto?
Parte do trabalho de todos do ramo da bebida (de jornalistas a distribuidores) é incentivar o crescimento de consumidores de cervejas artesanais no país. Quando tornamos o ato de beber em algo limitador e que requer conhecimentos específicos, damos um tiro no pé do segmento.
Quer um exemplo claro? É só olhar o que acontece com os enólogos. O vinho por muitas vezes é tido pelo grande público um produto caro e feito para esnobes, tornando um desafio gigante levar a cultura da bebida para novos consumidores. Não podemos deixar isso acontecer com a cerveja.
Não é a toa que a cerveja é um evento ligado a eventos sociais: futebol, carnaval, faculdade. A cerveja é uma bebida divertida e sociável, ideal para tomar junto a um grupo de amigos. Cabe a quem escreve e trabalha com a bebida aprender a ser tão amigável e sociável quanto a bebida que ele aprecia.
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