Dedicação é mais importante do que talento?

Vince Thomas Lombardi, conhecido apenas como Vince Lombardi, foi o primeiro treinador campeão do Super Bowl, e venceu o campeonato duas vezes consecutivas com o Green Bay Packers, em 1967 e 1968. Seu sucesso inspirou muita gente, e muitas pessoas que quiseram seguir seu exemplo acreditaram que a chave para tudo o que ele conquistou era seu talento.

Cansado de ouvir esse tipo de afirmação, Vince deu uma declaração que pode ser usada como um guia para a sua vida:

O preço do sucesso é o trabalho duro, a dedicação ao trabalho em questão e a certeza de que não importa ganhar ou perder, o que importa é saber que aplicamos o melhor de nós na tarefa em questão.

Você pode buscar sucesso em qualquer área da vida: trabalho, relacionamento, estudo, enfim, não importa. Em todas elas, o segredo não é ter talento – por mais chocante que isso possa parecer para você – o segredo, para Vince Lombardi e outros atletas bem sucedidos, é trabalhar duro.

Conor McGregor, por exemplo, é outro atleta que reforça a importância do trabalho duro sobre o talento.

Apesar de ser apontado por muitos especialistas em MMA como um lutador talentoso, o campeão peso pena Conor McGregor fez questão de destroncar essa ideia. Em 2015, depois de nocautear José Aldo em apenas 13 segundos, o irlandês fez questão de reforçar que não acredita em talento, e sim na perseverança das pessoas em alcançar o seu objetivo. “Não existe talento, existe trabalho duro. Isso é uma obsessão. O talento não existe, nós somos iguais como seres humanos. Você pode ser quem quiser se você dedicar tempo a isso. Você irá chegar ao topo, e é assim que são as coisas. Eu não sou talentoso, sou obcecado”, declarou McGregor.

Os especialistas dizem que o segredo é unir talento e dedicação

Dedicação é mais importante do que talento?

A discussão levantada por esses dois esportistas data de mais de cem anos. Há décadas, a ciência tenta explicar por que algumas pessoas são excepcionais, enquanto outras, a despeito da aplicação em termos de energia e tempo, nunca passam do nível regular. Então, o que realmente é consequência do talento e o que é esforço?

Brooke Macnamara, professora de psicologia na Case Western Reserve University, e mais dois colegas de profissão reuniram os 88 estudos mais renomados já realizados na área, analisaram todos os dados adquiridos e lançaram, em julho de 2014, um estudo na revista Psychological Science.

O trabalho foi considerado a revisão mais completa já feita até o ano de 2014, e as conclusões abalaram algumas certezas que tínhamos sobre o que tornava alguém bem sucedido. O principal ponto descoberto no estudo, porém, pode ser um pouco contraditório ao que dissemos acima: dedicar muito tempo a uma tarefa não fará ninguém virar um fora de série.

Num jogo de xadrez, por exemplo, Brooke Macnamara explica que os jogadores que herdaram uma inteligência maior e uma memória melhor terão vantagens, mas há outros fatores que determinam o sucesso. Experiência é um deles. Macnamara pontua: “com base em nosso estudo, porém, derrubamos a noção de que a quantidade de tempo dedicado à prática é a principal responsável pelo sucesso, como muitos andaram dizendo nos últimos tempos”.

Então, será que Vince Lombardi e Conor McGregor estavam errados? Mcnamara levanta outro ponto: “As pessoas querem acreditar que qualquer um pode alcançar o que quiser. É igualitário achar que, com muito empenho e treino, somos todos capazes. Mas infelizmente não é bem assim. Só o esforço não basta”.

Se esforçar nunca é ruim

Dedicação é mais importante do que talento?

Então, segundo o estudo abrangente, as duas coisas importam. Em algumas áreas, o talento conta mais, em outras, o esforço é primordial. Brooke mcnamara exemplifica: “Avaliamos pesquisas nas áreas de música, esportes, profissões, educação e jogos de mesa. O treinamento parece ser mais importante em jogos como xadrez. O tempo dedicado ao treinamento explica 26% da diferença de performance, ou seja, por que alguns jogadores são excepcionais e outros não. Em música, o percentual foi de 21%; em esporte, 18%; e em educação o número foi de 4%”.

Porém, essa afirmação pode parecer perigosa e, para não gerar dúvidas, é importante ressaltar que a prática é importante para atingir a excelência, e o resultado acima não significa que estudar vai fazer com que uma pessoa só melhore seu desempenho em 4%.

“Quando quantificamos os fatores que afetam a diferença de desempenho entre os melhores e os piores alunos de uma sala de aula, o tempo dedicado ao estudo explica 4% do todo. Os demais 96% que afetam a diferença são explicados por outros fatores. Isso não deveria ser surpreendente para ninguém. Nas escolas, são comuns os casos de alunos que aprendem rapidamente quando o professor fala em sala de aula, estudam pouco tempo em casa e vão bem nas provas; e daqueles que têm mais dificuldades, estudam muito mais e, às vezes, não tiram notas tão boas”. Explica Mcnamara.

No trabalho, a coisa é um pouco diferente: “Os estudos que existem sobre treinamento na área profissional ainda são restritos. Há alguma coisa sobre atividades como piloto de aeronaves militares, programadores de computador e vendedores de seguro. São profissões muito diferentes para que a gente chegue a algo conclusivo. Fora isso, há um debate sobre a definição de treinamento — se inclui experiência profissional ou não. Dito isso, acho difícil que o treinamento apareça como o fator mais determinante para uma pessoa chegar à excelência”.

A conclusão da autora? Em resumo, ela diz que há uma série de fatores que influenciam o desempenho no trabalho e não sabemos quais mais contribuem para o sucesso. Para isso, infelizmente, ainda é necessário um estudo mais profundo e ainda mais detalhado. Enquanto isso, continue unindo as duas coisas e se dedicando o máximo: mal não vai fazer.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.