Por que você deve ter cuidado com o empreendedorismo de palco

A empreendedora brasileira Bel Pesce se envolveu em polêmicas recentes quando descobriram algumas brechas em seu currículo. Veja como não cair em conversas semelhantes!

O discurso, você já conhece: você pode conquistar tudo o que quer. Você pode chegar longe, ir além, vencer na vida, trabalhar em uma multinacional, morar em Dubai, dominar o mercado. Você pode se tornar milionário, virar o líder do Vale do Silício, o dono de uma grande corporação.

Basta comprar o meu livro e o ingresso para a minha palestra e o show é cativante: quando eu entro no palco, a música com certeza vai te fazer acreditar em você mesmo.

Quando eu começo a contar a história da minha vida, você vai ver que a sua não é tão diferente. Você vai sentir que, se eu consegui, você também consegue. Se eu tenho esse currículo com vinte e tantos anos, você também pode ter. Minhas frases são de efeito, eu falo bem, eu esbanjo energia.

Você pode usar qualquer página do meu livro para criar uma publicação no Facebook que vai te render milhares de compartilhamentos. Eu sou bom nisso, eu digo o que os outros querem ouvir da maneira que eles querem ouvir.

Eu posso dar entrevistas em vários programas de TV e convencer o país inteiro de que eu conquistei o mundo. Afinal, ninguém vai checar meu currículo e, quando alguém tentar seguir meus passos, vai se pegar surpreendentemente confuso porque, por algum motivo, o caminho parece nebuloso.

Então, esse alguém vai ler meu livro outra vez, vai comprar, mais uma vez, o ingresso para a minha palestra e vai sair de lá sentindo, outra vez, que pode conquistar o mundo.

Mas, mais uma vez, quando for colocar as minhas dicas em prática, algo vai parecer fora do lugar. Elas já não são tão claras quando são colocadas na ponta do lápis. É por isso que meu tipo de empreendedorismo é conhecido como empreendedorismo de palco.

Eu falo bem, meu discurso é repleto de frases de efeito. Eu emociono. Mas minhas dicas não são palpáveis, o caminho que eu proporciono é ilusório e, muitas vezes, falso.

Crédito: Reprodução

Para não cair na minha armadilha quando conhecer um palestrante que parece te motivar, analise se ele apresenta dados de desempenho que justifiquem todo esse sucesso: aumento de faturamento, vendas, investidores. Não importa: estude o currículo dele com seriedade.

O motivacional é importante, mas você precisa entender que um bom palestrante deve compartilhar um conteúdo aplicável. A boa ideia sempre deve estar acompanhada da boa gestão.

O caso de Bel Pesce, a “Menina do Vale do Silício”, a brasileira que conquistou tudo muito nova e compartilhou seus segredos em seus livros e palestras é apenas mais um caso de “não é bem assim”.

Seu currículo, segundo críticas recentes, é possivelmente maquiado. Suas dicas, segundo especialistas, são inaplicáveis.

Mas ela não é a única. O empreendedorismo de palco é repleto de histórias assim e você precisa tomar cuidado porque a motivação extrema, nesse caso, te coloca diretamente na corda bamba da frustração.

Quando você tenta seguir as dicas de sucesso do empreendedorismo de palco, você se pega perdido porque parece que o erro é seu, a falha é sua quando o objetivo não é alcançado ou a sua história não trilha o mesmo caminho que o palestrante garantiu durante sua apresentação.

Milagres não acontecem, o sucesso é uma combinação de percepção, talento, investimento e contatos. Métodos são criados de forma trabalhosa e nada vem fácil como grandes promessas de palco garantem.

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Mesmo sob o discurso de batalha árdua, o empreendedorismo de palco não se sustenta. Ele te engana dizendo que a conquista veio rápida depois de muita dedicação porque ele não te mostra os métodos aplicáveis do trabalho duro.

Em uma entrevista para o Huffpost Brasil, Marcelo Aidar, coordenador adjunto do Centro de Empreendedorismo e Novos Negócios da FGV (FGVCenn), fala sobre a importância da tentativa do erro. Ele diz que o sucesso de empresas que tomaram caminhos não convencionais, como a Apple, por exemplo, pode explicar a opção por esse método intuitivo e motivacional. Porém, ele se aplica a casos específicos.

“Não tinha como o Steve Jobs fazer uma pesquisa de mercado para saber se o tablet daria certo”, ele diz. Mas é o sonho de fortuna e realização que move muitos dos espectadores de palestrantes motivacionais.

Por isso, você precisa ter senso crítico. Precisa pesquisar. Fazer um trabalho de jornalista: conferir fontes, ir atrás de declarações e provas. Não caia em qualquer papo, sua carreira é importante demais para evaporar.

Maria Confort
Maria Confort

Jornalista, cinéfila, fanática por literatura e, por isso, apaixonada pela ideia de entender pessoas.

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