Por mim, o cinema seria uma grande festa aberta para todos

Para alguns, lugar de pobre não é no cinema com rico. É preso na favela vendo novela ou noticiário policial.

Por mim, o cinema seria uma grande festa aberta para todos

Sou grande fã do Jurandir Filho, criador do site Cinema com Rapadura. RapaduraCast e muitos outros projetos bem sucedidos e de alto nível. Foi com tristeza que me deparei com um texto dele sobre como o cinema barato pode ser um problema.

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O discurso não só mostra um preconceito com quem não tem dinheiro como coloca todo pobre como um potencial bandido. Sério dá uma olhada nesse trecho:

Com ingresso a 1 real, você abre a possibilidade de não só fãs de cinema irem assistir aos filmes, mas de pessoas más intencionadas. Querendo ou não, o ambiente vai ficar extremamente mal frequentado. Olha, não estamos na Europa.

Estamos num país onde a desigualdade é absurda. Um país onde existem MUITOS criminosos… Abrir este tipo de possibilidade em um ambiente fechado não é algo muito inteligente. Será que os donos das lojas desse shopping vão ficar felizes com as pessoas que estão frequentando esse ambiente? Sabe estádio? Já foi em um?

Quando os ingressos eram muito baratos, a quantidade de violência acaba sendo proporcional ao valor do ingresso. Não que o povão seja violento e nem que com ingressos caros acabou a violência nos estádios, mas você abre a possibilidade para criminosos praticarem seus delitos

Não preciso nem dizer que a recepção do texto por parte do público não foi a mais caloroso, mas mesmo assim, pude ver uma parte galera concordando com o pensamento de Jurandir. Para eles, lugar de pobre não é no cinema com rico. É preso na favela vendo novela ou noticiário policial.

Cine Pop 3

Na moral, para mim todo cinema tinha que ter sessões a um real e com bastante filme dublado. Para o povo inteiro poder ver aquilo que quisesse e ter a experiência das coisas ou lugares que não pode ir.

Para mim, ver um filme no cinema deveria ser uma festa com direito a jogar pipoca pro alto e bater palma quando o mocinho derrotasse o bandido e beijasse a mocinha no final. E para o inferno quem acha que só quem tem dinheiro tem que ter acesso a cultura.

Passou da hora não só de termos ingressos mais acessíveis, como mais cinemas populares em regiões carentes, com variedades de filmes e a preços acessíveis.

Nossa população menos abastarda sempre foi excluída do direito a ter acesso a arte, cinema e teatro. Passou da hora de possibilitar a este público mais cultura acessível, para que assim eles sejam mais conscientes do seu papel e sua escolha.

2014.05.30 - Porto Alegre/RS/Brasil - Cabanha La Festival Escolar de Cinema, no Cinebancários. Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21.com.br

Esse tipo de pensamento é o mesmo de quem diz que aeroporto virou rodoviária. Ou daquele cara que disse que tem medo de tomar uma facada no baço na FIFA Fan Fest porque é no Centro e “vai muito pobre”. Ou de quem diz que não deveria existir Virada Cultural.

Se esse tipo de pensamento fosse real, não teríamos assaltos no Jardins ou no Morumbi. Muito menos, teríamos muitos casos de furto em um festival como o Lollapalooza, onde um ingresso custa no mínimo R$500. 

Meu amigo, perigoso é estar vivo.

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Tive o prazer de frequentar muitos dos cinemas do Centro de São Paulo ao lado do meu pai quando era pequeno  Era uma época de um Centro antes da revitalização com menos policiamento e muitas salas de exibição em decadência.

Mesmo assim, lembro com alegria de assistir filmes como Jurassic Park, Independence Day e Street Fighter ao lado de centenas de pessoas cujo orçamento só podia bancar uma sessão naquelas salas. Nunca me aconteceu nada.

Lembro de ter que pegar um ônibus para chegar na Praça da Sé, atravessar o Viaduto do Chá, sentar no chão sujo do Cine Marabá lotado e ver com brilho nos olhos filmes de diretores como Steven Spielberg, George Lucas e Robert Zemeckis. Filmes que formaram meu caráter e personalidade.

Hoje, tenho o conforto de poder pegar meu carro para ir ver um filme e 20 conto para uma sessão não pesa tanto para mim. Mas não é a realidade de todos.

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Por que um filho de empregada não pode ter a chance de ver a história de Luke Skywalker? Por que negar a ele o direito de ver Marty Mcfly correndo contra o tempo para voltar para o futuro?

Só porque alguém que segue essa linha de pensamento do Jurandir não quer um menino negro de chinelo sentado ao lado dela no cinema?

Quero mais é um cinema barato, acessível e para todos. Segundo dados da  Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) da Presidência da República, 53% da população do Brasil é integrante da classe média, com renda per capita de R$ 291 a R$ 1.019.

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Será que um pai de família consegue gastar 100 reais – 10% de seu orçamento mensal – por uma inteira para ele e para a mulher e mais duas meias para seus filhos? Tem muita rede de cinema fazendo a gente de trouxa e cobrando uma fortuna por um ingresso.

Tem mais é que baratear e fazer do cinema uma praia. Garantir que desde o pedreiro da obra até o alto executivo possam sentar lado ao lado e torcerem para que o Indiana Jones,  Neo ou o Homem de Ferro se deem bem no final.

E se você tem nojo de pessoas com menos dinheiro, talvez, ficar em casa trancado assistindo Netflix seja o melhor programa para você.

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Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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