Perdi mil amores na balada

Muita gente se sentiu ofendida com o resultado final da campanha. Talvez porque tenham acreditado, e se sensibilizado, com a história de amor a primeira vista do jovem, uma versão da Cinderela moderna, onde o sapatinho de cristal seria um canal Youtube. Ou talvez idealizarem que podiam sim encontrar o seu amor na próxima balada, […]

Muita gente se sentiu ofendida com o resultado final da campanha. Talvez porque tenham acreditado, e se sensibilizado, com a história de amor a primeira vista do jovem, uma versão da Cinderela moderna, onde o sapatinho de cristal seria um canal Youtube. Ou talvez idealizarem que podiam sim encontrar o seu amor na próxima balada, se imaginando no lugar da tal Fernanda, na qual o príncipe encantado, aqui um jovem simpático, bem afeiçoado e munido de uma câmera de última geração, vai atrás dela declamando aos quatro cantos do Youtube seu amor à primeira vista.

Lembro-me de quando vi o vídeo pela primeira vez, e por um momento, me sensibilizei com aquela história. Sou daqueles que se apaixona fácil. Me apaixono mil vezes no metrô no caminho para o trabalho, pela ruiva de óculos lendo um livro do Machado, pela morena baixinha passando maquiagem num canto no vagão, ou pela gordinha simpática que rói as unhas de preocupação, talvez por estar atrasada para o trabalho, talvez por estar tendo problemas em casa, sei lá.

Se o rapaz do vídeo reclamava de ter perdido o telefone da Fernanda, como faço eu que perdi meu amor na micareta do Chiclete com Banana, no Guarujá em 2005, enquanto a muvuca levou a garota que conheci no meio de “Voa Voa” para longe de mim? Ou pela morena do sorriso lindo que conheci durante um samba em uma balada da faculdade? E se tivesse ido atrás de todas elas? Anotado um número de telefone, ligado no dia seguinte. Ou se fosse conversar com cada garota que me parece interessante no trajeto para o trabalho?

Em um mundo perfeito, algum executivo pica-grossa da empresa de celular (que não vale a pena ser mencionada) teria se sensibilizado, e encerrado a campanha ai. Dando esperança a todos os rapazes e moçoilas que saem de casa toda sexta e sábado à noite, de que naquelas próximas cinco, seis horas de bebida, música alta, “clima de paquera e azaração”, eles possam encontrar alguém que vai mudar suas vidas. E que essa pessoa vai começar uma campanha com mais de 700 mil visualizações só para encontrar aquele (a) que roubou sua atenção no meio de tantos na balada.

De volta ao mundo real, temos que nos contentar em anotar o número no celular (nada de anotar em papel, aliás, quem ainda faz isso?), e torcer para que ela dê o telefone certo, ou no caso das mulheres, que ele ligue no dia seguinte.

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Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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