E se o próximo James Bond for negro?

Com o possível último filme de Daniel Craig como 007, fica um dúvida: Poderia o próximo James Bond ser negro?

E se o próximo James Bond for negro?

Sou muito fã de James Bond. Daquele tipo que passou semanas acordado de madrugada assistindo as reprises dos filmes e que possui coleções de VHS e DVDs com todos os longas da série.

E, desde o lançamento de “007 contra Spectre” – provavelmente o último filme de Daniel Craig na franquia – começou a nova caçada pelo novo ator para fazer o papel. Essa passagem de manto – ou smoking – sempre foi uma das partes mais divertidas para mim.

Lembro de com 8 anos de idade meu pai me levar ao cinema para ver “GoldenEye” só para conhecer o novo 007. Entre “Um novo dia para morrer” e “Cassino Royale”, pude acompanhar na internet as especulações para quem assumiria o posto.

Novamente, voltamos a busca pelo novo agente secreto com a licença para matar, só que dessa vez, um questionamento tem tomado corpo: E se o próximo James Bond for negro?

O que faz de um James Bond um James Bond?

Chiwetel Ejiofor arrives at the 41st NAACP Image Awards on Friday, Feb. 26, 2010, in Los Angeles. (AP Photo/Matt Sayles)

Se você der uma olhada nos fãs da franquia, vai ver que muitos deles elogiam a passagem de Sean Connery na saga. O que é muito louco, já que Ian Flemming, escritor e criador do personagem, odiou o casting do ator. Mas, o que faz um James Bond ser um James Bond?

De cabeça: Um personagem sedutor, carismático e elegante, que sirva não só de sonho de consumo para as mulheres, como também de inspiração para os homens. E ele tem que ter sotaque britânico.

“Ah, mas as características físicas também importam para o papel.”

Nem tanto, meu amigo. O personagem sempre teve cabelos morenos em todos os livros e filmes, até que Daniel Craig, um loiro, assumiu o papel. Sem grades polêmicas.

Nas telas, ele sempre foi um personagem na faixa dos 30 a 35 anos, mas Roger Moore tinha 57 anos e Sean Connery 53 em seu últimos filmes como personagem.

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Além disso, o 007 sempre foi um cara mais esguio e que solucionava seus problemas com classe e não com força bruta. Tudo que o mais recente não faz em seus filmes.

Craig tem um porte mais parrudo, derruba paredes, mata inimigos na porrada e se joga de maneira suicida dentro de helicópteros. Inclusive, “Skyfall” é o filme do 007 com a maior arrecadação de bilheteria da história.

“Ah, mas nada a ver dar um personagem de uma cor para a outra.”

Ah, é? Bem, preciso te contar que isso acontece desde sempre no cinema. John Wayne fez Genghis Khan,  Mickey Rooney interpretou um japonês em “Bonequinha de Luxo”, Orson Welles, Laurence Olivier e Anthony Hopkins já pintaram o rosto de preto para fazerem o papel de “Otelo”, Jake Gyllenhall foi o “Príncipe da Persia” e o novo “Deuses do Egito” traz Gerard Butler e uma porrada de atores brancos interpretando egípcios.

John Boyega poses for a portrait at The Collective and Gibson Lounge Powered by CEG, during the Sundance Film Festival, on Monday, Jan. 20, 2014 in Park City, Utah. (Photo by Victoria Will/Invision/AP)

Trocar a cor ou nacionalidade de um personagem é o que Holywood sempre fez, mas parece que um negro no papel de branco ofende muito mais do que o contrário.

Afinal, será que um ator como Idris Elba ou  – os mais cotados até o momento – poderiam fazer um papel de um personagem mais classudo? Pela capacidade de atuação, tenho certeza que sim. E essa não é primeira polêmica do tipo na série.

Uma discussão parecida aconteceu na década de 70 quando o agente secreto teve sua primeira bond-girl negra em “Diamantes são eternos”. Os mais reacionários achavam um absurdo 0 007 se envolver um relacionamento interracial.

O que pensam os atores

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No meio da polêmica se James Bond poderia ser negro, alguns atores que já interpretaram o personagem se pronunciaram.

Daniel Craig, o mais recente, diz apenas que o “quem for escolhido deve apenas fazer seu trabalho e eu estou pouco me fudendo para a cor da pele dele”. Sério. Desse jeito mesmo. Já Pierce Brosnan, acredita que não exista motivos para um negro não poder interpretar o papel.

Já Roger Moore, disse em entrevista para a revista Paris Match, que acredita que o herói só poderia ser interpretado por alguém que fosse “Inglês-Inglês”, como se quase não houvesse população negra no país.

Quando morei na Inglaterra, morei com a família White, que curiosamente era negra, em um bairro chamado Blackheath, que possui uma grande comunidade de negros. Pelas ruas de Londres, pude ver não só brancos, como negros, asiáticos e indianos. Logo, não sei que é o “inglês-inglês” ao qual Moore se refere.

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O James Bond não era um personagem cômico até Roger Moore assumir o smoking. Também não era um assassino sangue frio até Timothy Dalton e também não era loiro até Daniel Craig. Então, sabe o que muda se o próximo James Bond for negro? Nada.

Mudar é a essência do James Bond. O 007 não é uma pessoa, ele é um conceito que se renova a cada geração. Ele continuaria sendo um agente secreto a serviço de sua Majestade empunhando sua Walther PPK  e dirigindo um Aston Martin.

Aliás, só teríamos a ganhar com um grande personagem do cinema sendo interpretado por um ator negro.

O personagem continuaria sendo um retrato de seu tempo e que se renova a cada ator que assume o papel. Agora, e se próximo James Bond for gay ou uma mulher? Bem…

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Edson Castro
Edson Castro

Jornalista, ilustrador, apaixonado pela vida e por viver aventuras. Coleciona HQs, tênis e boas histórias para contar.

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