A máxima que costumamos seguir é: “cada história tem dois lados”. Sim, isso é verdade. Mas existem alguns comportamentos injustificáveis dentro de qualquer relacionamento, seja fraternal, uma relação de amizade, namoro ou casamento.
Na maioria das vezes, a pessoa responsável pelo comportamento abusivo dentro de um relacionamento sequer percebe que está agindo dessa forma. Os motivos são vários: insegurança, repetição de comportamentos de terceiros, falta de diálogo e até alguma doença mais grave.
O primeiro passo para salvar seu relacionamento ou não comprometer namoros futuros é enxergar a repetição dessas ações para abolir esses comportamentos.
O segundo é entender a diferença entre o abuso dentro de um namoro ou casamento e as discussões e problemas comuns em toda relação.
A diferença entre sugerir e obrigar
A tonalidade da conversa e as particulares de cada relacionamento vão te fazer perceber qual é a diferença entre os dois assim que você aceitar que ela existe.
Como assim? Bom, o dilema pode surgir em situações extremas ou banais, como uma simples pergunta: “estou bonita?”.
Quando ela te perguntar algo assim, pense na origem da sua resposta. Você diz que a saia está curta demais, mesmo sabendo que, na verdade, não está? Ou, na hora de responder, diz algo como: “você não vai sair de casa desse jeito”?
Se você está em um relacionamento com alguém, precisa confiar nessa pessoa e respeitar sua personalidade. Lembre-se: ela já existia antes de você aparecer, já era uma pessoa com gostos, desejos e opiniões.
É lógico, um bom relacionamento faz ambos amadurecerem e mudarem para melhor, mas querer apagar e mudar detalhes que fazem a outra pessoa feliz não é cruel?
Inverta a situação. Você tem uma coleção de camisas de time de futebol e gosta muito delas. Na hora de sair de casa, sua namorada vira para você e diz: “você não vai sair comigo assim”. Parece justo?
Bom, esse foi um exemplo simples, mas existem comportamentos ainda piores. Você já disse para a sua namorada que ela está com “cara de puta” por causa de um simples batom? Ou falou que o novo corte de cabelo dela estava horrível, e que ela deveria deixar o cabelo comprido?
Talvez você não goste muito de tatuagem, mas já começou a namorar uma garota tatuada que, depois de alguns meses de namoro, resolveu fazer outra tatuagem e você disse: “se você se tatuar, eu termino com você”?
Quando a outra pessoa está empenhada em alguma nova tarefa ou projeto profissional, você a incentiva ou insiste em ressaltar apenas o lado negativo?
Quando você se preocupa com alguém e quer ver essa pessoa alcançando sucesso no futuro, é natural apresentar todas as vantagens e desvantagens de uma nova empreitada, mas não é natural desestimular suas realizações e objetivos.
Parecem comportamentos inofensivos, mas o reflexo na personalidade da sua parceira pode ser irreparável. Se ela está namorando com você, ela te ama. Ouvir da pessoa que a gente ama coisas cruéis podem acabar com nossa autoestima, ainda mais se o objeto de chantagem for o término relacionamento.
Violência verbal ou física
Um relacionamento saudável é leve. Mesmo com brigas e discussões, não existe crueldade e vontade de ferir. Bater boca é normal, brigar também. Mas a ofensa verbal repetitiva é um perigo e pode, sim, evoluir para algo ainda pior.
Se você está bravo com a sua namorada, resolva o problema em casa. Se você estiver na frente de amigos ou família, não fique dando indiretas sobre o comportamento dela, fazendo com que ela passe vergonha na frente das pessoas importantes para ela.
Em uma briga, repare se você a xinga de palavras extremamente cruéis, ou a faz sentir inferior por certos comportamentos que não tem relação alguma com a origem do problema.
Por exemplo, vocês estão discutindo por algum problema financeiro e sua reação, na raiva, é dizer algo como: “sua puta, dinheiro é o que importa pra você” ou “sua vagabunda, eu vi você dando em cima do meu amigo outro dia”.
Nunca é certo utilizar xingamentos como esses. Você já parou para pensar na origem dessas frases? Quem utiliza “vagabunda” ou “puta” em uma discussão, provavelmente está querendo fazer a outra pessoa se sentir inferior pela sua sexualidade. Isso parece certo?
Intimidações, ameaças, afirmações do tipo: “você não é nada para mim” servem para desestruturar o parceiro e deixá-lo acreditar, em seu subconsciente, que ele deve continuar naquele relacionamento.
Violência física, de qualquer forma, é inaceitável. Você pode achar que foi um simples tapa, um empurrão. Porém, violência alimenta violência e, quando você menos perceber, pode terminar com alguém muito machucado ou até morto.
Não é exagero.
Segundo dados coletados em 2014 pela Central de Atendimento à Mulher, 43% das mulheres em situação de violência sofrem agressões diárias de seus companheiros; para 35%, a agressão é semanal.
Em 2014, do total de 52.957 denúncias – desconsiderando as milhares de mulheres sem coragem para denunciar – 27.369 corresponderam a denúncias de violência física (51,68%) e 16.846 de violência psicológica (31,81%).
Ninguém quer fazer parte dessas estatísticas, certo? Então, enxergue os sinais e pare.
Liberdade é saudável
O convívio com amigos e família é essencial para um relacionamento duradouro e feliz.
Você e sua namorada não vivem em uma bolha. É natural querer passar o maior tempo possível com quem amamos, mas nos afastar de quem se importa com a gente é perigoso para ambos os lados.
Se você continua saindo com seus amigos, mas impede que sua namorada saia com as amigas ou utiliza isso como chantagem, você está errado.
Se você não sai com seus amigos e, por isso, também não deixa sua namorada sair com as amigas dela, você está errado.
Se você sai com seus amigos e só permite que sua namorada saia com as amigas dela quando você fizer o mesmo, você está errado.
Ninguém deve proibir ou limitar.
Namorar é unir duas vidas e caminhar ao lado de quem a gente ama.
Respeito, compreensão e confiança são os três pilares de um bom relacionamento. Quando você conquista esses três pontos, não existe motivos para proibir sua namorada de viver a vida dela. Ou existe?
A culpa
Bom, já aceitamos que é natural brigar, certo? Também já entendemos a diferença entre uma briga saudável e um sintoma de abuso, correto? Então, agora, precisamos enxergar um comportamento silencioso e extremamente cruel e recorrente em muitos relacionamentos: a culpabilização.
Você pode ter cometido um erro e sua namorada está brigando com você por causa do erro cometido. Você reconhece esse erro e sabe, bem no fundo, a dimensão dele.
Mesmo assim, no fim da briga, é ela quem pede desculpas.
Você, de alguma forma, reverteu a situação e a fez pedir desculpas.
Muitas vezes, ela pode sim estar errada e perceber isso durante uma discussão. Mas você sabe quando você errou, você sabe o deslize que cometeu e você sabe, no fundo, quando está manipulando tudo aquilo.
É certo fazer sua namorada pedir desculpas todas as vezes, mesmo reconhecendo, em você mesmo, o erro?
O impacto disso no comportamento e no psicológico da outra pessoa é devastador. É nesse detalhe que nasce uma mulher incapaz de denunciar a violência. Ela acha, no fundo, que a culpa é dela.
Ciúme
Você pode achar que sentir ciúme de vez em quando pode ser natural e até bonitinho. Você quer proteger quem você ama e, é claro, proteger o relacionamento. Mas checar todas as ligações do telefone da sua namorada não é saudável. Ver as conversas no Facebook, WhatsApp também não.
A história de “precisamos compartilhar tudo” não é saudável. Sua namorada pode conversar intimidades com as amigas, assim como você gosta de falar coisas com seus amigos que você não diria para ela. Isso é normal.
Não existem, por exemplo, coisas que você contaria para um amigo mas não falaria para o seu irmão?
Reclamar, constantemente, da demora da sua namorada em ir até o shopping ou voltar da casa da sua sogra e dizer, mesmo sem pensar, algo como: “você não se importa comigo”, quando algo assim acontece, não é normal.
O diabo nos detalhes
Por fim, como foi dito no início do texto, todos erramos e somos capazes de comportamentos manipuladores de vez em quando. Queremos o que queremos, afinal. Mas existe um excesso e, dele, nasce o abuso.
Talvez a opinião dos amigos esteja correta. Por exemplo, se você for a vítima em um relacionamento abusivo, terá amigos que te conheciam bem antes de você iniciar o namoro.
Eles podem, com sinceridade, perceber o quanto você mudou ou se a mudança foi negativa.
As amigas e família da sua namorada podem perceber a mesma coisa caso ela seja a vítima de abuso no relacionamento.
Por isso, é importante prestar atenção em quem se importa com você.
Um relacionamento deve ser leve, trazer coisas boas e te ajudar a crescer. Um namoro não deve fazer mal, não deve trazer as piores características do casal à tona e nem afastá-los de sonhos e desejos anteriores ao compromisso.
Quando iniciamos um namoro, queremos que dê certo, certo? Então, tenha uma visão crítica sobre seu comportamento e, mesmo se esse processo for doloroso, tente enxergar a simples e deliciosa vantagem de fazer bem para alguém.
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