Com apenas 26 anos, o barman Laércio Silva, o Zulu, atingiu um dos pontos altos de sua carreira. Na tarde do dia 19 de maio, foi eleito o melhor bartender do Brasil pelo Diageo World Class 2014. E isso é só o começo.
Entre os dias 26 de julho e 2 de agosto, disputa no Reino Unido o título de melhor barman do mundo contra outros 50 profissionais de diversos cantos do globo. Nada mal para alguém que está na carreia há apenas 5 anos.
O Manual do Homem Moderno conversou com Zulu no La Maison Est Tombée, bar que ele comanda no Itaim Bibi. Confira os melhores trechos de nossa entrevista abaixo:
Sobre a emoção de ganhar o World Class
“Quando restavam apenas cinco competidores, não teve o anúncio do terceiro ou segundo colocado. Não teve muito suspense, foi direto o campeão. E do nada: Laércio de Silva, o Zulu. A primeira reação que me veio foi dar um grito. Era muita adrenalina. Fiquei muito emocionado.
Não é que eu não queria, mas não esperava. Queria, mas não esperava. Você fica naquela coisa, será que vai dar, será que não vai dar? Treinei bastante e deu tudo certo. E na hora tudo que me veio foi uma vontade de gritar e sair abraçando todos os queridos que estavam ali.”
O drink perfeito
“Quando eu penso em um drink perfeito, penso no ritual todo: na apresentação, no preparo, na ideia que você vai trocar para pedi-lo. Dificilmente você vai encontrar um drink perfeito em uma balada com o som tocando alto. Se vamos falar de perfeição, vamos falar de tudo. Do ambiente, a apresentação do bartender até o momento dele chegar nas suas mãos.”
“O drink perfeito tem que ser servido com carisma, hospitaleiro, com o barman demonstrando que está com vontade de fazer aquele coquetel. Se eu sento no balcão, quero ver se o cara é meu conhecido ou não, além de sacar a vontade e qualidade no trabalho dele.
O cara vira para você e fala que vai fazer um drink adstringente. Se eu não estou acostumado a tomar esse tipo de coquetel e ele me explica, narrando o que eu vou sentir, ele já conseguiu a minha atenção. Não tem como eu não me sentir bem. E isso é o mais importante: se sentir bem.”
Elementos brasileiros nos drinks
“O ponto crucial para meu trabalho é ir seguir uma linha de ingredientes que eu realmente conheça. Eu sou do interior da Bahia e a cultura baiana trabalha com elementos naturais como raízes, sementes, cascas, folhas, flores… A regra é pensar no que você quer fazer e nos ingredientes que você conhece.
Eu tenho a semente de umburana, castanha-do-pará, melado de cana e a rapadura, como adoçante. Não é algo que eu quero usar como exótico é que, para mim, ela é algo normal. Na mixologia trabalhamos muito com grenadine, mas prefiro trabalhar com urucum para ter uma autenticidade na hora de colorir alguma coisa.”
“No começo, eu ficava preocupado se ia pegar bem, mas isso é meu perfil de trabalho. Assim como tem bartenders que se destacaam por fazer drinks do século XVIII e XIX, eu prefiro trabalhar com ingredientes brasileiros. Cada dia que passa eu vejo como faltam elementos brasileiro nos drinks servidos por aqui.
Quando vejo que para mim usar umburama e rapadura é algo super normal, tem gente que nem sabe o que é. Eu uso isso ao meu favor para o meu trabalho. Eu defino como mixologia a interpretação e conhecimento dos elementos com que você está trabalhando. Eu me preocupo muito com isso.”
Expectativas para o mundial
“A expectativa está muito grande. Tenho pensando muito no treinamento que vamos fazer no Panamá. Estou curioso para saber o que eu vou ver lá, os gurus que vou encontrar e o treinamento com os outros finalistas. Quero ver o que vai mudar depois desta uma semana. Quero absorver o máximo.
O mundial dá um tesão. Só de me imaginar embarcando no meio dos caras, o olho dá até uma estalada. Quatro anos e meio de estrada e já estar entre os melhores do mundo. Competindo. Mas estou lá entre os 50 melhores. Não é pouca coisa.”
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